Editorial
O papa ilumina
Enquanto Berlusconi confunde
Na sua recente viagem à África, papa Francisco teve uma longa conversa com 82 padres jesuítas congoleses. Na ocasião, dia 15 de fevereiro, o papa disse, entre outras coisas: “Acredito que o ministério papal deve ser vitalício. Não vejo razão para que não seja assim. A tradição histórica é importante e se, em vez disso, dermos ouvidos a mexericos, teremos de mudar o papa a cada seis meses”. Quais seriam as razões desta fala do grande reformador da Igreja Católica?
Duas saltam aos olhos. A primeira diz respeito ao momento em que vivemos, à beira de um conflito nuclear para reproduzir Hiroshima e Nagasaki em outros cantos do mundo. Vela o Pontífice até o limite sobre o destino do globo. Por outro lado, leve-se em conta também a possibilidade de que tenha percebido alguma inquietação dentro da Cúria Romana, disposta a crer que o pontificado de Francisco durou demais. De todo modo, a afirmação tão peremptória causou alguma surpresa, registrada em consequência de um furo de reportagem do jornal La Stampa, de Turim, na quinta-feira 16.
Seguiu-se a uma declaração de Vladimir Putin, impassível ao declarar: “A culpa é do Ocidente”. Imediatamente, recebeu o apoio do veterano criador de problemas, Silvio Berlusconi, aos 86 anos cada vez mais esticado pela ação dos cirurgiões plásticos. Líder do partido Forza Italia, Berlusconi, conforme era previsível, disse no dia seguinte não ter sido entendido à perfeição. Na interpretação, segundo ele, houve precipitação dos jornalistas, a frase não seria igual a quanto foi publicado.
Este gênero de joguinho de ida e volta é típico do personagem, mas desta vez provocou rebuliço na maioria parlamentar do governo Meloni. A bem da diversão do próprio Berlusconi, a repentina surtida teve a correção habitual 24 horas depois. Em todo caso, a amizade do político italiano com o czar russo é notória aos olhos da opinião pública e decerto não é desmentida por Putin. •
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1248 DE CARTACAPITAL, EM 1° DE MARÇO DE 2023.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ” O papa ilumina “
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