O que a expansão dos institutos federais pode antecipar sobre o futuro do Ensino Médio no Brasil

O governo promete construir ao menos 100 novos institutos federais; professor defende a expansão do modelo para a rede convencional

Créditos: Ricardo Stuckert/PR

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Nesta terça-feira 12, o governo federal anunciou a expansão da rede de institutos federais pelo País. Segundo o presidente Lula (PT) serão construídos 100 novos institutos federais em todos os estados do País até o fim do atual mandato, em 2026.

Atualmente, o Brasil conta com 682 IFs em todos os estados, com pouco mais de 1,5 milhão de estudantes. Com a construção das novas unidades, a estimativa do governo é de abertura de 140 mil novas matrículas.

De acordo com o Ministério da Educação, 2,5 bilhões de reais serão usadas para as novas unidades. Mais 1,4 bilhão será destinado à reforma e construção de novas áreas, como ginásio e refeitório, em institutos já existentes.

Para o coordenador do Sindicato dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica em São Paulo (SINASEFE-SP) e professor no Instituto Federal de São Paulo, Rogério de Souza, a medida é um ‘grande feito’ do governo federal e um reconhecimento ao modelo de ensino praticado pela rede, entre eles o Ensino Médio Integrado ao Técnico.

“A principal aposta dos institutos federais é o que chamamos de Ensino Médio integrado, que procura desenvolver não só a dimensão acadêmica ou técnica, mas sim as várias dimensões dos educandos”, explica.

Esse modelo, reforça o educador, segue ganhando destaque nas avaliações educacionais de larga escala, como Pisa e Ideb — e isso é de suma importância, sobretudo no momento em que o País discute os rumos do Ensino Médio , e tenta chegar a um consenso do que fazer com o Novo Ensino Médio, herança do governo de Michel Temer (MDB).


O governo deveria se inspirar na experiência do ensino médio integrado e adotá-la em todo o país.”. Há em todas as unidades da rede, por exemplo, aulas de teatro, música, atividade física, integrada às áreas do conhecimento e à formação técnica. “Trabalhamos com a ideia de que todo ser humano tem várias dimensões e que o papel das escolas é fomentá-las.”

Rogério lamenta que ainda prevaleçam concepções dualistas da escola — de que uma parte dos estudantes deve seguir a formação acadêmica, enquanto outra, a de cunho técnico. “O atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) vem incentivando a feitura, especialmente pelo filho do trabalhador, da parte técnica, excluindo a possibilidade de uma formação completa, integral, que possibilite a esse estudante ingressar no Ensino Superior, caso ele deseje”, critica.

A ampliação, nesse sentido, toca em um ponto importante, que é a de aumentar a capacidade de atendimento dos institutos federais, ainda pequena quando considerado o universo de estudantes do Ensino Médio no País.

“Quando pegamos o universo de estudantes de Ensino Médio no Brasil, de 8 milhões, não temos nem 5% deles atendidos pela rede federal”, constatou. “No estado de São Paulo, por exemplo, temos em torno de 1,2 milhão de estudantes no Ensino Médio, e não oferecemos nem 30 mil vagas”, pondera.

Só para o estado de São Paulo foram anunciadas 12 novas unidades, sendo na capital, Jardim Ângela e Cidade Tiradentes, além de Osasco; Santos; Diadema; Ribeirão Preto; Sumaré; Franco da Rocha; Cotia; Carapicuíba; São Vicente e Mauá (veja ao final da reportagem a lista completa).

Para o especialista, um dos entraves à ampliação do modelo oferecido pelos institutos federais esbarra no entendimento errôneo, inclusive por governos progressistas, de que o investimento por aluno é caro, já que é o dobro do aplicado aos alunos da educação básica.

“O nosso aluno da rede federal é basicamente o dobro da rede estadual de São Paulo no que diz respeito a investimento. Hoje, no estado de São Paulo, se investe em torno de 7,5 mil/8 mil reais por aluno. No Instituto Federal esse investimento é de 16 mil”, aponta. “Muitos governos, inclusive progressistas, avaliam que os institutos federais são caros quando comparados às escolas regulares, o que denota uma falta de prioridade à educação”, contesta.

Ainda na linha orçamentária, o governo tem outros desafios, como recompor o orçamento dos institutos federais, em queda nos últimos 10 anos, garantir a melhoria das unidades existentes e promover a valorização profissional de professores e técnicos, perseguindo a manutenção da qualidade da educação ofertada.

“Nos últimos 10 anos, especialmente depois de 2016, tivemos uma redução significativa do orçamento dos institutos. Hoje, temos cerca de 40% a mais de estudantes na rede, mas com o orçamento de 2015”, nota o educador, destacando os problemas de estrutura física e de pessoal enfrentados pelos institutos federais.

“A verba anunciada pelo governo, de 1,4 milhão, não cobre tudo o que a gente precisa e não restitui a verba que a gente tinha em 2015. Aplaudimos a expansão, tem que expandir mais ainda, mas também garantir condições para as unidades existentes“, completa, destacando também, entre as necessidades, a correção da defasagem salarial dos servidores.

“Nós, servidores, estávamos sem reajuste há quase 7 anos, no caso dos técnicos, e há quase cinco, no caso dos professores. No começo do ano passado, o governo Lula deu um reajuste de 9%, mas a nossa defasagem está em torno de  30% no caso dos professores, e 40% no caso dos técnicos. Promover os investimentos necessários no modelo é uma forma de investimento futuro”, defende.

Veja onde serão construídos os novos IF’s:


Nordeste (38)

  • Bahia (8): 

Itabuna;

Macaúbas;

Poções; 

Remanso;

Ribeira do Pombal; 

Ruy Barbosa; 

Salvador; e

Santo Estevão.

  • Ceará (6): 

Campos Sales;

Cascavel;

Fortaleza (2); 

Lavras de Mangabeira; e


Mauriti.

  • Pernambuco (6)

Águas Belas;

Araripina; 

Bezerros; 

Goiana;

Recife; e

Santa Cruz do Capibaribe. 

  • Maranhão (4): 

Amarante do Maranhão;

Balsas;

Chapadinha; e

Colinas.

  • Paraíba (3)

Mamanguape; 


Sapé; e

Queimadas.

  • Alagoas (3): 

Girau do Ponciano; 

Mata Grande; e

Maceió.

  • Piauí (3)

Barras;

Esperantina; e

Altos.

  • Rio Grande do Norte (3):

Touros;

São Miguel; e

Umarizal.

  • Sergipe (2)

Japaratuba; e

Aracaju.

Sul (13)

  • Paraná (5)

Maringá;

Araucária;

Cianorte;

Cambé; e

Toledo.

  • Rio Grande do Sul (5)

Caçapava do Sul;

São Luiz Gonzaga;

São Leopoldo;

Porto Alegre; e

Gramado.

  • Santa Catarina (3)

Tijucas;

Campos Novos; e

Mafra.

Sudeste (27)

  • São Paulo (12)

São Paulo (Jardim Ângela e Cidade Tiradentes);

Osasco;

Santos;

Diadema;

Ribeirão Preto;

Sumaré;

Franco da Rocha;

Cotia;

Carapicuíba;

São Vicente; e

Mauá.

  • Minas Gerais (8)

João Monlevade; 

Itajubá;

Sete Lagoas;

Caratinga;

São João Nepomuceno;

Belo Horizonte;

Minas Novas; e

Bom Despacho.

  • Rio de Janeiro (6)

Rio de Janeiro (Cidade de Deus e Complexo do Alemão);

Magé;

Belford Roxo;

Teresópolis; e

São Gonçalo.

  • Espírito Santo (1)

Muniz Freire

Norte (12)

  • Pará (5)

Barcarena;

Redenção;

Tailândia;

Alenquer; e

Viseu.

  • Amazonas (2)

Santo Antônio do Içá; e

Manicoré.

  • Rondônia (1): 

Butiritis

  • Tocantins (1)

Tocantinópolis

  • Acre (1)

Feijó

  • Amapá (1)

Tartarugalzinho

  • Roraima (1):

Rorainópolis

Centro-Oeste (10)

  • Goiás (3)

Cavalcante;

Porangatu; e

Quirinópolis.

  • Mato Grosso (3)

Água Boa;

Colniza; e

Canarana.

  • Distrito Federal (2): 

Sol Nascente; e

Sobradinho.

  • Mato Grosso do Sul (2)

Paranaíba; e

Amambaí.

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1 comentário

Ilson Feriguetti Junior 13 de março de 2024 10h34
Olhe que legal o Lula investindo em mais Institutos Federais, mas me digam uma coisa e os IFs implantados???? Não tem dinheiro para manter minimamente os IFs já implantados quem dirá para esses novos IFs. Ainda mais com esse ministro que não está fazendo nada para pelo menos mitigar os benefícios do Novo Ensino Médio. Votei no Sr. Lulaque está cometendo os mesmos erros do passado e sinceramente não sei se votaria nele outra vez.

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