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Assange entrevista líder do Hezbollah em estreia na tevê russa

O fundador do WikiLeaks falou com Hassan Nasrallah, mas obteve respostas com pouco conteúdo

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Era para ser uma estreia bombástica. O início foi bom, mas depois desandou. Este é o resumo da primeira edição de The World Tomorrow (O mundo amanhã), programa do australiano Julian Assange, fundador do WikiLeaks, no canal russo Russia Today. Assange conseguiu um “furo” mundial ao entrevistar, por videoconferência, o secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah. Há seis anos, o líder do grupo libanês, considerado terrorista por Estados Unidos, União Europeia e Israel, não falava com a imprensa ocidental. Era uma chance de ouro para esclarecer o papel do Hezbollah no Oriente Médio, mas Assange não conseguiu aproveitá-la.

O início do programa foi auspicioso. Assange começou questionando Nasrallah sobre o que seu grupo consideraria uma vitória contra Israel. Ouviu como resposta a posição radical do grupo libanês, que deseja acabar com a existência do Estado judeu. Para Nasrallah, a existência de Israel “é ilegal”, a “Palestina pertence aos palestinos” e a única solução viável é o estabelecimento de um Estado único, no qual muçulmanos, judeus e cristãos convivam juntos. Depois, Assange fez perguntas capazes de incomodar Nasrallah. A primeira, sobre o que Nasrallah chamou, segundo documentos vazados pelo WikiLeaks, de “comportamento corrupto” de membros do grupo, que estariam andando com carros do tipo SUV, usando roupas de seda e comendo em restaurantes caros. Nasrallah negou ter feito este comentário, mas afirmou que tais comportamentos eram fruto da entrada de membros mais ricos no grupo. Depois, no ponto alto da entrevista, Assange perguntou a Nasrallah por que o Hezbollah apoiou os movimentos da chamada Primavera Árabe em países como a Tunísia e o Egito, mas não na Síria. Nasrallah respondeu de forma pragmática. Disse que o regime sírio de Bashar al-Assad “sempre apoiou a resistência a Israel e aos Estados Unidos” e que o Hezbollah pediu e pede a Assad que reformas democráticas sejam realizadas na Síria.

Na segunda parte do programa, a entrevista virou ferramenta para a propaganda do Hezbollah. Assange perguntou diversas vezes sobre até onde o grupo libanês apoiaria Assad, mas não obteve resposta. Como costuma fazer o ditador sírio, Nasrallah acusou países árabes e a rede terrorista Al-Qaeda de apoiar a oposição síria e desestabilizar o país. E deu uma informação nova. Segundo ele, o Hezbollah procurou setores da oposição síria para pedir que aceitassem dialogar com Assad, mas não teve sucesso.

A parte final da entrevista foi um desastre. Assange chamou Nasrallah de “guerreiro da liberdade”, se perdeu com uma pergunta inútil sobre as estratégias do Hezbollah para enganar oficiais da inteligência israelense, e terminou a entrevista perguntando por que Nasrallah não luta contra “a ideia totalitária da existência do monoteísmo”. O chefe do Hezbollah se prolongou em sua tese teológica e a entrevista acabou por aí.

Segundo Assange, este foi apenas o primeiro de uma série de programas deste tipo. Se conseguir outras entrevistas exclusivas como essa e, principalmente, se melhorar sua própria atuação como entrevistador, poderá dar uma contribuição interessante ao mundo. Caso não faça isso, manterá no ar um programa que, ao contrário dos arquivos do WikiLeaks, tem pouco conteúdo.

Confira abaixo a íntegra da entrevista (em inglês):

Era para ser uma estreia bombástica. O início foi bom, mas depois desandou. Este é o resumo da primeira edição de The World Tomorrow (O mundo amanhã), programa do australiano Julian Assange, fundador do WikiLeaks, no canal russo Russia Today. Assange conseguiu um “furo” mundial ao entrevistar, por videoconferência, o secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah. Há seis anos, o líder do grupo libanês, considerado terrorista por Estados Unidos, União Europeia e Israel, não falava com a imprensa ocidental. Era uma chance de ouro para esclarecer o papel do Hezbollah no Oriente Médio, mas Assange não conseguiu aproveitá-la.

O início do programa foi auspicioso. Assange começou questionando Nasrallah sobre o que seu grupo consideraria uma vitória contra Israel. Ouviu como resposta a posição radical do grupo libanês, que deseja acabar com a existência do Estado judeu. Para Nasrallah, a existência de Israel “é ilegal”, a “Palestina pertence aos palestinos” e a única solução viável é o estabelecimento de um Estado único, no qual muçulmanos, judeus e cristãos convivam juntos. Depois, Assange fez perguntas capazes de incomodar Nasrallah. A primeira, sobre o que Nasrallah chamou, segundo documentos vazados pelo WikiLeaks, de “comportamento corrupto” de membros do grupo, que estariam andando com carros do tipo SUV, usando roupas de seda e comendo em restaurantes caros. Nasrallah negou ter feito este comentário, mas afirmou que tais comportamentos eram fruto da entrada de membros mais ricos no grupo. Depois, no ponto alto da entrevista, Assange perguntou a Nasrallah por que o Hezbollah apoiou os movimentos da chamada Primavera Árabe em países como a Tunísia e o Egito, mas não na Síria. Nasrallah respondeu de forma pragmática. Disse que o regime sírio de Bashar al-Assad “sempre apoiou a resistência a Israel e aos Estados Unidos” e que o Hezbollah pediu e pede a Assad que reformas democráticas sejam realizadas na Síria.

Na segunda parte do programa, a entrevista virou ferramenta para a propaganda do Hezbollah. Assange perguntou diversas vezes sobre até onde o grupo libanês apoiaria Assad, mas não obteve resposta. Como costuma fazer o ditador sírio, Nasrallah acusou países árabes e a rede terrorista Al-Qaeda de apoiar a oposição síria e desestabilizar o país. E deu uma informação nova. Segundo ele, o Hezbollah procurou setores da oposição síria para pedir que aceitassem dialogar com Assad, mas não teve sucesso.

A parte final da entrevista foi um desastre. Assange chamou Nasrallah de “guerreiro da liberdade”, se perdeu com uma pergunta inútil sobre as estratégias do Hezbollah para enganar oficiais da inteligência israelense, e terminou a entrevista perguntando por que Nasrallah não luta contra “a ideia totalitária da existência do monoteísmo”. O chefe do Hezbollah se prolongou em sua tese teológica e a entrevista acabou por aí.

Segundo Assange, este foi apenas o primeiro de uma série de programas deste tipo. Se conseguir outras entrevistas exclusivas como essa e, principalmente, se melhorar sua própria atuação como entrevistador, poderá dar uma contribuição interessante ao mundo. Caso não faça isso, manterá no ar um programa que, ao contrário dos arquivos do WikiLeaks, tem pouco conteúdo.

Confira abaixo a íntegra da entrevista (em inglês):

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