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De Londres a Sydney, o que sobrou do legado das Olimpíadas?

A um ano das Olimpíadas no Rio de Janeiro, ainda há dúvidas quanto ao legado que o evento deixará para a cidade. Sedes anteriores ganharam e perderam com os Jogos Olímpicos

Os aros olímpicos no Parque Madureira, Rio de Janeiro
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Com um orçamento estimado em 24,6 bilhões de reais, o plano de legado das Olimpíadas do Rio de Janeiro conta com 27 projetos. O programa abrange obras urbanísticas, ambientais e, claro, esportivas. Carro-chefe da candidatura, o projeto despoluição da Baía de Guanabara, por exemplo, dificilmente será concluído até o ano que vem. Entretanto, outras iniciativas, como a linha de metrô que ligará Ipanema à Barra da Tijuca, deverão ficar prontas até julho de 2016.

Todas as quatro sedes anteriores dos Jogos Olímpicos também contaram com planos de legado. Os resultados, todavia, foram distintos em cada cidade. De elefantes brancos a importantes iniciativas de revitalização urbanística, confira abaixo o que sobrou das Olímpiadas nos últimos 15 anos.

Londres 2012

O leste da cidade foi a região que mais se desenvolveu, principalmente a área de Stratford. A antiga região industrial teve dois milhões de toneladas de terra descontaminadas e milhares de árvores plantadas.

Logo após os Jogos, com a inauguração de parques públicos, o número de cidadãos que praticavam esportes toda semana aumentou em 1,4 milhão. Por outro lado, no último ano, o número de pessoas que não praticam nenhum esporte subiu em 1,2 milhão, e 391 mil pararam de praticar natação, devido ao aumento no preço do ingresso nas piscinas públicas – o que põe em questão o legado “inspirador” prometido durante os Jogos e aclamado por alguns três anos depois.

O Parque Olímpico Rainha Elizabeth, que engloba o velódromo Lee Valley VeloPark e o Centro Aquático de Londres, é considerado por alguns um “elefante branco”. Além disso, o fato de se ter gasto cerca de 13 bilhões de dólares do dinheiro público na construção do parque ainda inflama discussões na sociedade até hoje.

Pequim 2008

Os Jogos Olímpicos de 2008 anunciaram uma “nova China”, moderna e tecnológica. Cinco novas linhas de metrô foram inauguradas em Pequim, e uma lei que reduzia a circulação de carros pela metade acabou promulgada. Nos anos seguintes, no entanto, o crescimento da cidade agravou os congestionamentos já existentes, enquanto problemas sociais e de poluição continuaram estagnados.

Projetado pelos arquitetos Herzog e de Meuron, o Estádio Nacional de Pequim, mais conhecido como Ninho de Pássaro, custou cerca de 430 milhões de dólares. Hoje, sedia de dois a três jogos por ano. Já o Centro Aquático Nacional de Pequim, conhecido como Cubo d’Água, custou 550 milhões de dólares e só é lembrado devido ao parque aquático construído em seu interior.

Estima-se que serão necessários cerca de 30 anos para que todos os gastos do evento – aproximadamente 32 bilhões de dólares, o orçamento mais caro da história dos Jogos Olímpicos – se paguem. Em 2022, a capital chinesa sediará os Jogos Olímpicos de Inverno.

Atenas 2004

A segunda edição dos Jogos modernos na Grécia contou com grandes investimentos em infraestrutura urbana. Novas estradas, ampliação do transporte público, obras urbanísticas e um novo aeroporto foram alguns dos projetos que saíram do papel.

A maior aposta do comitê, porém, foi a construção do Complexo Olímpico Helliniko, com cinco estádios. Onze anos depois, o local acumula “elefantes brancos”, como o ginásio de tênis de mesa e ginástica, que está à venda, e os estádios de volêi de praia e softball, abandonados. O plano de transformar Helliniko em um parque metropolitano nunca foi efetivado.

Segundo o governo grego, os Jogos custaram 8,5 bilhões de euros aos cofres públicos – o dobro do orçamento original. Por outro lado, a indústria do turismo cresceu consideravelmente desde então. Em 2014, 24,2 milhões de turistas visitaram o país, mais que o dobro dos 11,7 milhões registrados em 2004.

Sydney 2000

A primeira Olimpíada do novo milênio colocou a metrópole australiana definitivamente na rota dos grandes eventos esportivos internacionais. O legado – que conta com o maior estádio olímpico do mundo, com 110 mil lugares – possibilitou à Austrália sediar outros eventos, como a Copa do Mundo de Rugby, em 2008, e o World Masters Game, em 2009.

Hoje, o Estádio Olímpico recebe cerca de 45 eventos por ano. Só em 2011, a vila olímpica local sediou 6 mil eventos e recebeu 12 milhões de pessoas. Depois dos Jogos de 2000, o parque esportivo se tornou um bairro residencial e comercial, com um fluxo de 12 mil pessoas, o que acabou por revitalizar um subúrbio de Sydney. O plano, contudo, só saiu do papel em 2005.

Foi também a primeira Olimpíada que contou com um plano de sustentabilidade efetivo, levando em conta o impacto ambiental. O legado trouxe o maior parque metropolitano da Austrália, com 430 hectares, e estabeleceu o primeiro sistema de reciclagem de água no país.

Financeiramente, porém, a história foi diferente. Segundo dados da Universidade de Melbourne, os Jogos de 2000 deixaram os cofres australianos com um rombo líquido de 2,1 bilhões de dólares.

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