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Egito: ‘Sim’ vence referendo com 98,1% dos votos e 38,6% de participação

Com a campanha pelo “não” suprimida e vista como sinal de apoio à Irmandade Muçulmana, venceram os militares

Com retrato do general Sissi, egípcios celebram no Cairo a vitória do "sim" no referendo. A campanha pelo "não" foi alvo de hostilidades por parte do governo egípcio
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Por Emmanuel Giroud

O “sim” venceu o referendo constitucional no Egito com 98,1% dos votos e 38,6% de participação, anunciou a Comissão Eleitoral neste sábado 18, em um resultado interpretado pelo governo militar como a legitimação popular da derrubada do presidente islâmico Mohamed Morsi.

O governo estabelecido pelos militares tinha anunciado que consideraria como uma vitória política uma taxa de participação superior à do referendo constitucional de 2012, quando Morsi estava no poder (32,9%).

Essa participação e a esmagadora votação em favor do “sim” provaram que a queda de Morsi foi uma “revolução popular”, disse um alto funcionário em uma entrevista coletiva, ao anunciar formalmente os resultados.

Segundo as Forças Armadas, essa “vitória” justificaria nas urnas a destituição e a detenção do primeiro presidente eleito de forma democrática no Egito. Os militantes favoráveis a Morsi acusam os militares de terem dado um “golpe de Estado” no dia 3 de julho.

Em declaração alguns minutos antes do anúncio oficial dos resultados, o chefe do Serviço de Informação do governo, Salah al-Din Abdel Maqsud, já havia declarado que o referendo “prova que 30 de junho foi uma revolta popular”. Nessa data, milhões de egípcios foram às ruas exigir a saída de Morsi, acusando-o de querer islamizar o país à força.

O novo e popular homem forte do Egito, general Abdel Fattah al-Sissi, tinha vinculado seu destino à participação nesse referendo, realizado na terça e na quarta-feira. Três dias antes da votação, ele havia anunciado que se candidataria à eleição presidencial de 2014, “se o povo pedir”.

Com isso, a consulta popular se transformou em um plebiscito, em plena onda de repressão contra os partidários de Morsi, sobretudo, os integrantes da Irmandade Muçulmana.

A Irmandade, que venceu todas as eleições desde a revolta no país em 2011, convocou a população a boicotar a votação e, por causa disso, nenhuma campanha foi feita pelo “não”.

A grande maioria dos eleitores entrevistados pela AFP nas filas de espera das seções eleitorais no Cairo não escondeu que votava “sim para Sissi” e “não para a Irmandade Muçulmana”.

O referendo é a primeira etapa da “transição democrática” prometida por Al-Sissi, a partir de 3 de julho, que continuará com eleições legislativas e presidencial em 2014.

“Todas as estradas levam Al-Sissi para a presidência da República”, escreveu o jornal oficial Al-Akhbar na capa.

Nada permite, porém, anunciar uma reconciliação rápida no país. A Irmandade Muçulmana garantiu que pretende continuar as manifestações, embora não consiga mais mobilizar multidões. Quase todos seus líderes foram detidos, e suas bases, dizimadas pelas forças da ordem.

O secretário de Estado americano, John Kerry, pediu neste sábado que o Egito ponha em prática os direitos garantidos na nova Constituição.

À medida que a transição do Egito avança, os Estados Unidos pedem ao governo interino egípcio que instrumentalize completamente os direitos e as liberdades garantidos na nova Constituição para o benefício do povo egípcio, e que dê passos na direção da reconciliação”, afirmou Kerry, de acordo com a nota divulgada pelo Departamento de Estado.

No comunicado, Kerry advertiu que “não é apenas uma votação que determina a democracia” e acrescentou que “é o que vem depois que dará forma ao marco político, econômico e social do Egito durante gerações”.

“Os corajosos egípcios que mantiveram a vigília na praça Tahrir não arriscaram suas vidas em uma revolução para ver seu potencial histórico dilapidado na transição”, frisou Kerry, pedindo aos líderes egípcios que “assumam compromissos difíceis e busquem um amplo consenso em vários temas que causam divisão”.

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