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Ex-repúblicas soviéticas na mira de Moscou

Depois da Crimeia, outros vizinhos da Rússia, do Báltico ao Cáucaso, podem ser vítimas do novo expansionismo de Putin

Ativistas pró-Rússia seguram bandeiras em frente ao de um monumento ao soldado do Exército Vermelho
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Após a anexação da península da Crimeia à Federação Russa, observadores se perguntam se o presidente Vladimir Putin terá na mira outros países na periferia da Rússia. A Deutsche Welle apresenta os eventuais candidatos na campanha expansionista do Kremlin.

Países do Báltico
Devido a sua localização na costa leste do Mar Báltico, a Estônia, Letônia e Lituânia são designadas “Países Bálticos”. Em 1940, os três países foram ocupados pela União Soviética. Em 1991, foram os primeiros a se desligar da antiga União Soviética, declarar independência e se voltarem para o Ocidente, e hoje são membros tanto da União Europeia quanto da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Ainda assim, a longa sombra da Rússia ainda se estende sobre a região, fortemente dependente do petróleo e gás russos.

Estônia: Cerca de um quarto de seus 1,3 milhões de habitantes é de origem russa. O Estado no extremo nordeste da Europa tem muitas florestas, possui mais de 1.500 ilhas e é considerado local promissor para firmas de internet.

Letônia: Um pouco maior, era altamente industrializada na época soviética e atraiu muitos imigrantes russos. Mais de um quarto de seus atuais 2 milhões de habitantes fala russo. A agricultura, pesca e silvicultura são os principais pilares da economia local.

Lituânia: Com população de 3 milhões, foi a primeira república a se declarar independente da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). No entanto, até hoje mantém laços econômicos estreitos com a Rússia, sua principal parceira de negócios, para onde vai quase 18% das exportações lituanas. Moscou observa o país com atenção especial, pois ele faz fronteira com o enclave russo Caliningrado.

Vizinhos na União Europeia
Mais para o sul, Belarus, Ucrânia e a República da Moldávia formam uma zona-tampão entre a Rússia e a UE, que há alguns anos vêm se expandindo em direção ao leste. Enquanto Belarus aderiu à União Aduaneira Russa, a Ucrânia e a Moldávia são do interesse ativo da UE.

Belarus: Após o colapso da União Soviética, tornou-se independente em 1991. Desde 1994, o presidente Alexander Lukashenko governa o país com punho de ferro. Ele se opõe à privatização das empresas estatais – economia privada é praticamente inexistente – e tem grande interesse no estreitamente das relações com Moscou. O país depende muito do petróleo russo. Grande parte do transporte do petróleo e gás da Rússia para a Europa Ocidental se dá através de Belarus.

Ucrânia: Há bastante tempo o país está nas manchetes, devido a meses de protestos, deposição do presidente, novo governo interino e o referendo na Crimeia, que definiu a anexação da península pela Rússia. A Ucrânia tem uma longa história de submissão a potências estrangeiras: segundo certos estudiosos, seu nome significaria “terra fronteiriça”.

No tocante ao idioma, história e política, o país é profundamente dividido. Um terço dos habitantes têm o russo como língua materna, e o leste é fundamentalmente pró-russo. A Ucrânia é vital para o abastecimento da Rússia com gêneros alimentícios e também um ponto nodal para as exportações russas de energia, além de importante fornecedor de água e eletricidade para a Crimeia. O país e a UE trabalham em direção a um acordo de associação, que já foi em parte assinado.

República da Moldávia: Até ser anexada pela União Soviética em 1940, pertencia à Romênia. Com 4 milhões de habitantes, ela luta contra tendências separatistas internas, sobretudo nas regiões da Transnístria e da Gagaúzia. Em seus esforços por um contato mais estreito com a Moldávia, a UE está negociando um acordo de associação. Em contrapartida, Moscou tenta forçar a república a aderir a sua união aduaneira, por exemplo, boicotando as exportações moldávias de vinho e produtos agrícolas.

Cáucaso
O Cáucaso, na interface entre a Europa e a Ásia, é uma das regiões de maior diversidade linguística e cultural do planeta, mas também é um viveiro de conflitos. Com exceção do Azerbaijão, rico em petróleo, a maioria dos países da região não conseguiu se firmar economicamente na era pós-soviética, o que origina grandes conflitos sociais. A influência russa continua sendo enorme. Os principais focos de crise são a Abkházia, a Ossétia do Sul, Inguchétia, Tchetchênia e o Daguestão.

Abkházia: Em 1999, declarou sua independência em relação à Geórgia, que não reconhece a separação. Porém, a economia do país de 250 mil habitantes foi prejudicada na luta pela autonomia. A Rússia procura intensificar sua influência e recentemente aumentou seus investimentos na Abkházia, além de usar o país desde 2010 para estacionar seus mísseis antiaéreos.

Ossétia do Sul: Reconhecida pela Rússia como Estado independente depois da guerra na Geórgia, ela é hoje um enclave de 70 mil habitantes, extremamente dependente de verbas russas. Sua quota de desemprego é alta, assim como seu custo de vida. Há anos ela se empenha pelo ingresso na Federação Russa.

Inguchétia: República autônoma dentro da Federação Russa, com população de 400 mil, na maioria, muçulmanos. As origens étnicas são de grande importância em sua sociedade.

Tchetchênia: Em 1991, após o fim da URSS, declarou sua independência em relação à Rússia. Três anos mais tarde o Kremlin enviou tropas para o país para restabelecer sua autoridade, resultando na primeira Guerra da Tchetchênia, terminada em 1996 com a fragorosa derrota da Rússia. Em 1999 os militares russos retornaram ao país. A taxa de desemprego e pobreza é grande entre os 1,25 milhão de tchetchenos, apesar das injeções financeiras de Moscou para a reconstrução.

Daguestão: Assim como a Inguchétia e a Tchetchênia, é uma república autônoma dentro da Rússia, com quase 3 milhões de habitantes e maioria muçulmana. O russo é a primeira língua oficial, embora 3,5% da população seja de etnia russa. A extração de petróleo e gás são os setores econômicos mais importantes, ao lado da pesca. As autoridades do país são avaliadas como basicamente fiéis a Moscou, mas também extremamente corruptas.

  • Autoria John Blau (av)
  • Edição Fernando Caulyt

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