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Trump anuncia retirada dos EUA do Acordo de Paris

A decisão do presidente norte-americano deve prejudicar duramente o maior e mais importante acordo contra o aquecimento global já firmado

Trump: durante a campanha, ele afirmou diversas vezes que "não acreditava" no aquecimento global
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quinta-feira 1º a retirada de seu país, o segundo maior poluidor do mundo, do Acordo de Paris, firmado em 2015 por 196 países com o intuito de reduzir o aquecimento global. A decisão deve provocar um terremoto político em todo o mundo e prejudicar de forma intensa o combate às mudanças climáticas.

“A partir de hoje, os Estados Unidos cessarão toda a implementação do Acordo de Paris não vinculativo e os encargos financeiros e econômicos draconianos que o acordo impõe ao nosso país”, disse Trump. O presidente dos EUA reclamou que o acordo, assinado durante o governo do seu antecessor, Barack Obama, oferece aos outros países uma vantagem injusta sobre a indústria americana e destrói os empregos americanos. “Eu fui eleito para representar os cidadãos de Pittsburgh, não os de Paris”, afirmou.

Como um dos maiores poluidores da atualidade, e o maior se levada em conta a história, os Estados Unidos tinham um papel determinante no Acordo de Paris, seja como exemplo ou como potências capaz de convencer as demais nações a cumprirem o que foi acordado. A saída de Washington, assim, pode reduzir drasticamente a eficácia do acordo.

Em sua recente viagem à Europa, Trump ouviu apelos firmes da França, da Alemanha, da União Europeia e do Vaticano para que mantivesse o país no acordo. Jean-Claude Juncker, o presidente da Comissão Europeia, afirmou que Trump não conseguiu entender nem mesmo as mecânicas de saída de um país do acordo, processo que poderia levar até quatro anos para ser concluído. “Essa noção de que ‘eu sou Trump, eu sou americano, América em primeiro lugar, então vou sair do acordo’, isso não vai acontecer”, afirmou Juncker.

O Acordo de Paris foi firmado em 12 de dezembro de 2015 e assinado por 196 países que participaram da COP 21, realizada na capital da França. A meta central do acordo é limitar o aquecimento da temperatura média da Terra a menos de 2ºC acima dos níveis de temperatura anteriores à Revolução Industrial. Isso seria feito pelo incentivo ao uso de energias renováveis e pela redução da emissão de gases do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global.

Esse aumento na temperatura terá um impacto grande na vida na Terra, mas seria menos devastador do que um aquecimento global desregulado. Uma segunda meta do Acordo de Paris é perseguir alterações no modelo atual de desenvolvimento que limitem o aquecimento global a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais até 2100. Esse objetivo pode mitigar a devastação de países insulares, como as Ilhas Marshall, que podem ser destruídos pelas mudanças climáticas.

Confusão na Casa Branca

A decisão segue uma promessa de campanha de Trump. Durante as primárias do Partido Republicano e durante a disputa com Hillary Clinton, Trump afirmou inúmeras que não “acreditava” na hipótese de o aquecimento das temperaturas na Terra ser provocado por atividades humanas – apesar de a tese ter sido comprovada pela ciência e ser referendada pela imensa maioria dos cientistas em todo o mundo. Em 26 de maio de 2016, em um ato de campanha, Trump chegou a afirmar que iria “cancelar” o Acordo de Paris.

Desde que chegou ao poder, o presidente dos EUA enviou sinais contraditórios sobre o tema, mas na maior parte do tempo indicou sua disposição de promover o uso de energias fósseis (carvão, petróleo, gás) em nome da defesa dos empregos americanos.

Os paradoxos na forma de lidar com o tema são reflexos das divergências dentro da Casa Branca. Até os últimos momentos, o caso expôs mais uma vez o caótico processo de tomada de decisões da administração Trump, marcado por disputas internas entre seus assessores. Horas antes do anúncio, três fontes ligadas diretamente aos debates internos na Casa Branca chegaram a confirmar à imprensa norte-americana que Trump retiraria os EUA do Acordo de Paris, mas momentos depois outras três fontes disseram o contrário.

China e UE defendem acordo

Horas do anúncio de Trump, a China, maior emissora mundial de gases do efeito estufa, e a União Europeia defenderam com vigor o Acordo de Paris.  

“A China seguirá implementando as promessas que fez durante o Acordo de Paris”, disse o primeiro-ministro chinês Li Keqiang em Berlim, após um encontro com a chanceler alemã Angela Merkel. “Mas, certamente, esperamos contar com a cooperação dos demais”, completou, em uma referência às ameaças de Trump sobre uma possível retirada do acordo.

Li Keqiang e Angela Merkel Li Keqiang, premiê da China, e Merkel, chanceler alemã: apoio firme ao acordo (Foto: Tobias Schwarz / AFP)

Pequim foi, ao lado da administração americana presidida na época por Barack Obama, um dos principais artífices do acordo histórico em que 196 países se comprometeram a reduzir as emissões de gases que provocam o efeito estufa. 

Merkel, que não falou sobre Trump, celebrou o fato de a China “respeitar seus compromissos sobre o acordo climático”.

Apesar de não terem mencionado o nome, os dois governantes fizeram claras referências à postura de Trump, poucos dias depois de a chanceler alemã ter criticado Washington. 

“Ambos somos partidários do livre comércio e de uma ordem mundial baseada em regras”, disse Merkel, ao demonstrar sua oposição ao protecionismo e unilateralismo que Trump defende desde sua eleição. 

Várias autoridades da UE adotaram um tom menos diplomático com o presidente americano antes da decisão. O comissário europeu da Ação pelo Clima, Miguel Arias Cañete, afirmou que “independente do que acontecer, o Acordo de Paris continuará”.

*Com informações da AFP

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