Mundo
Venezuela: Constituinte tem saldo de 8 milhões de votos e dez mortos
Em dia marcado pelo aumento de assassinatos, o governo da Venezuela realizou neste domingo 30 a eleição para a Assembleia Constituinte
Elianah Jorge, correspondente da RFI em Caracas
Em geral, nas eleições venezuelanas existem candidatos de vários partidos e vertentes políticas, porém os que participaram da Assembleia Constituinte eram todos aliados ao chavismo. Os opositores não fizeram parte do processo por considerá-lo inconstitucional. O período em que as urnas estiveram abertas foi além das 12 horas de votação previstas.
De acordo com o governo, a eleição das 545 pessoas que vão escrever uma nova Constituição para a Venezuela foi um sucesso. Já a oposição afirmou que foi um grande fracasso e que apenas participaram 2,4 milhões de pessoas. Segundo os números oficiais do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) desta segunda-feira (31), mais de oito milhões de venezuelanos (41,53%) votaram neste domingo (30) na eleição da Assembleia Constituinte convocada pelo presidente Nicolás Maduro.
Leia Mais:
No entanto, de acordo com o Datanálisis, uma das mais importantes empresas de pesquisas da Venezuela, 72% da população eram contra a eleição. Brasil, Espanha, Panamá, Canadá, Colômbia, Reino Unido, Argentina e Peru manifestaram oficialmente que não reconhecem a eleição da Assembleia Constituinte venezuelana.
O Mercosul analisa a expulsão da Venezuela do bloco após a realização da eleição para a Constituinte. Com o pleito de hoje o governo quer escrever uma nova Constituição para o país e assim sepultar a que foi estabelecida pelo ex-presidente Hugo Chávez.
As vítimas da violência política
A violência política causou a morte de pelo menos 10 pessoas. Dezenas ficaram feridas e, de acordo com a organização não-governamental Fórum Penal, cerca de 96 foram presas. A maioria dos crimes aconteceram no interior do país, sobretudo no estado Táchira, que faz fronteira com a Colômbia, e em Mérida, na região dos Andes venezuelanos. Um candidato e um dirigente político estão entre as vítimas. Estas mortes equivalem a mais de 10% das que aconteceram desde o início dos protestos contra o governo, em abril deste ano.
A tensão aumentou durante a última semana, sobretudo após o ministro de Interior e Justiça anunciar a proibição das manifestações durante e depois do dia da votação. A convocação feita pelos opositores para a população sair às ruas para protestar neste fim de semana foi outro detonador da violência. A maioria das mortes foram causadas por armas de fogo, apesar da proibição do porte de armas em todo o país até esta terça-feira (1°).
Para a oposição, a Assembleia Constituinte já começa manchada de sangue. De acordo com o ministro da Defesa, o general Vladimir Padrino López, nenhuma das mortes deste domingo estão relacionadas com a ação das Forças Armadas. Já um dirigente do Partido Socialista da Venezuela, do qual a cúpula do governo faz parte, informou que nenhuma pessoa morreu por causa do acirramento político.
A posse dos eleitos
Dentro de um período de até 72 horas após o anúncio dos resultados os candidatos eleitos tomarão posse, de acordo com o Conselho Nacional Eleitoral. O governo informou que os novos constituintes irão trabalhar no Palácio Legislativo, mesmo lugar onde legislam os deputados opositores, eleitos em dezembro de 2015.
A coligação opositora Mesa da Unidade Democrática convocou manifestações para os próximos dias, sobretudo quando a Assembleia Constituinte tomar posse. Esta eleição consolida o início de uma nova etapa na política venezuelana com a institucionalização de poderes paralelos.
Solução para os problemas na Venezuela?
É pouco provável que ao escrever uma nova Constituição os problemas do país sejam resolvidos. Sobretudo porque no nível político o povo não foi consultado previamente e tampouco houve a participação do setor opositor. As mortes das últimas horas demonstraram que a intolerância política e social aumentou.
Já no setor econômico é pouco provável que algo mude, sobretudo se levarmos em conta a profunda dependência da Venezuela ao petróleo. Desde que tomou posse, Maduro afirma que quer diversificar a economia. Até o momento essa meta não foi alcançada.
Os Estados Unidos oxigenam a economia venezuelana graças às importações de petróleo. Porém o governo do presidente Donald Trump ameaçou aplicar sanções ao país caso a eleição da Constituinte fosse realizada. Se isso acontecer, o estrangulamento da economia causaria efeitos imediatos e o povo venezuelano seria o mais afetado.
Esta reportagem foi publicada originalmente na RFI Brasil.
Outras:
Violência marca eleição de Assembleia Constituinte na Venezuela
Sob tensão, Venezuela elege Assembleia Constituinte
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.
Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.