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Violentos confrontos marcam referendo na Catalunha

Autoridades catalãs dizem que “sim” à independência venceu com 90% dos votos. Para chefe de governo espanhol, referendo “não existiu”

Segundo as autoridades catalãs, mais de 800 pessoas precisaram de atendimento médico
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Os eleitores da Catalunha votaram neste domingo  em um referendo de independência considerado ilegal pelo governo da Espanha, em meio a um forte esquema policial. Confrontos violentos entre forças de segurança e civis deixaram centenas de feridos, segundo autoridades.

Após o encerramento das urnas, o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, declarou que “o referendo não existiu” e que todos os espanhóis puderam constatar que o Estado de Direito se mantém forte e vigente no país.

“Hoje prevaleceu a democracia, porque a Constituição foi cumprida”, disse o chefe de governo – a consulta popular havia sido suspensa pela Justiça espanhola. Segundo alegou Rajoy, “a grande maioria” dos catalães não participou da “mera encenação” que foi o referendo deste domingo.

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Sem mencionar diretamente os incidentes registrados por conta da atuação policial, o líder espanhol ainda ressaltou que os únicos responsáveis pelo ocorrido na Catalunha são os que “promoveram a ruptura da legalidade e da convivência”.

Barcelona Em Barcelona, policiais removiam à força manifestantes que fechavam as ruas (Raymond Roig/AFP)

Por sua vez, o presidente do governo da Catalunha, Carles Puigdemont, defendeu que a região autônoma ganhou “o direito de ser um Estado independente” após a votação deste domingo. Segundo autoridades catalãs, resultados preliminares mostram que o “sim” venceu com 90% dos votos.

O líder catalão afirmou que enviará nos próximos dias, ao Parlamento da Catalunha, os resultados da consulta popular, para que seja feito o que prevê a lei do referendo – em caso de vitória do “sim”, uma declaração unilateral de independência deve ser emitida em 48 horas.

Puigdemont ainda condenou a violência policial durante os confrontos deste domingo, afirmando que alguns casos foram “claras violações” dos direitos humanos, que não podem ficar impunes. Ele ainda descreveu os embates como uma das páginas mais “vergonhosas” da relação do Estado espanhol com a Catalunha.

Centenas de feridos em confrontos
A intervenção de policiais espanhóis e guardas civis durante o referendo gerou momentos de tensão com os manifestantes independentistas. Alguns dos confrontos aconteceram enquanto agentes tentavam confiscar as cédulas de votação.

Durante protestos, forças de segurança chegaram a usar balas de borracha contra manifestantes. No centro de Barcelona, houve ações dos policiais contra pessoas que fechavam as ruas. Em um ou outro caso, foram jogados objetos contra os agentes.

Segundo as autoridades catalãs, mais de 800 pessoas precisaram de atendimento médico após os embates com as forças de segurança.

Puigdemont já havia afirmado mais cedo que as autoridades espanholas usaram violência “injustificada, desproporcional e irresponsável”. Ele acrescentou que os cassetetes, balas de borracha e violência usados pelos policiais espanhóis mostram uma “imagem terrível da Espanha no exterior”.

“O uso injustificado, desproporcional e irresponsável da violência por parte do Estado espanhol no dia de hoje não vai ser suficiente para deter o desejo dos catalães de poder votar pacífica e democraticamente”, afirmou o presidente do governo catalão.

Por outro lado, o ministro do Interior espanhol, Juan Ignacio Zoido, defendeu que a polícia estava retirando as urnas de colégios eleitorais na Catalunha apenas para cumprir o mandato judicial e a legalidade sobre o referendo.

Diante do clima de instabilidade, o clube catalão Barcelona decidiu jogar neste domingo com os portões fechados, mesmo que a polícia tenha garantido a segurança da partida. Sem público, o time venceu o Las Palmas por 3 a 0 dentro do Campeonato Espanhol.

Em nota, a diretoria do Barcelona comunicou que a decisão era uma forma de manifestar sua inconformidade com o que definiu como “falta de liberdade de expressão”, já que muitas pessoas foram impedidas de votar. No placar eletrônico, foi exibida a palavra “democracia”.

Barcelona FC Diante da instabilidade, o clube catalão Barcelona decidiu jogar com os portões fechados (José Jordan/AFP)

Mudança nas normas de votação
A consulta separatista convocada em setembro pelo governo autônomo catalão foi suspensa pelo Tribunal Constitucional. Diferentes tribunais ordenaram medidas para que as forças de segurança fechassem os locais de votação e confiscassem urnas e cédulas eleitorais. Mesmo com os esforços policiais, eleitores conseguiram votar em alguns lugares.

O fechamento de dezenas de colégios eleitorais por parte da polícia levou as autoridades catalãs, na manhã deste domingo, a modificar as normas de votação que tinham emitido anteriormente. Segundo as novas regras, um eleitor poderia votar em qualquer seção eleitoral da região e não apenas naquela a que tinha sido atribuído, com cédulas impressas em casa e sem envelope.

Para o porta-voz do governo catalão, Jordi Turull, as novas normas configuram um processo eleitoral “com garantias” legais. Por outro lado, fontes do governo em Madri asseguram que os separatistas “liquidaram qualquer vestígio de respeitabilidade democrática” com a mudança.

Membros das forças de segurança, que já haviam bloqueado neste sábado o centro de informática catalão, anularam neste domingo o novo sistema anunciado durante a manhã pelo porta-voz Turull, que é também assessor da presidência catalã.

Dessa forma, fica difícil saber quantas pessoas participaram da consulta, enquanto o Ministério do Interior apontou que, com essa falta de garantia, uma mesma pessoa pode ter votado várias vezes em diferentes lugares.

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