Como o assassinato do presidente do Haiti desencadeou a operação contra Braga Netto e outros militares no Brasil

A PF está nas ruas nesta terça-feira para apurar uma suspeita de sobrepreços em coletes à prova de balas durante a intervenção federal no Rio de Janeiro

Suspeitas contra Braga Netto foram encontradas durante a busca por informações sobre a morte de Jovenel Moïse, no Haiti. Fotos: TIMOTHY A. CLARY / AFP e José Dias/PR

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Ao deflagrar, nesta terça-feira 12, a operação contra os responsáveis pela intervenção federal no Rio de Janeiro por suspeitas de fraude em compras de coletes balísticos, a Polícia Federal (PF) justificou que as investigações começaram por conta da cooperação de uma agência de investigação norte-americana, que apurava o assassinato do ex-presidente do Haiti, Jovenel Moïse, em julho de 2021.

As datas são diferentes, já que a operação no Rio aconteceu em 2018, enquanto a morte de haitiano ocorreu em 2021; os eventos são distintos – uma operação federal em um estado brasileiro e um assassinato a um líder caribenho -, mas o ponto passa pela empresa norte-americana CTU Secutiry LLC. 

A relação entre os casos

Antes de chegar no Rio, é preciso passar, primeiro, pelo Haiti. Jovenel Moïse foi morto a tiros quando estava em casa, em Porto Príncipe, de julho de 2021. Um dos órgãos responsáveis pela investigação foi a Agência de investigações de Segurança Interna dos Estados Unidos (Homeland Security Intestigations, ou HSI, na sigla em inglês). Ao apurar o caso, a agência constatou que a empresa mencionada forneceu apoio militar para o crime.

Enquanto esmiuçava o histórico das contratações da empresa, os Estados Unidos, através da sua Embaixada no Brasil, notificou a PF acerca de um sobrepreço na compra dos coletes balísticos usados na intervenção no RJ.

“Após a comunicação de crime pelas autoridades americanas, o TCU encaminhou os ofícios e processos referentes à Tomada de Contas das compras das contratações de coletes balísticos pelo Gabinete de Intervenção Federal na Segurança Público do Estado do Rio de Janeiro, apontando indícios de conluio entre as empresas e de estas terem conhecimento prévio da intenção de compra dos coletes pelo GIFRJ e estimou um valor total global do potencial sobrepreço de R$ 4.640.159,40”, informou a PF, ao explicar a operação deflagrada nesta terça-feira 12.

Dessa forma, existem suspeitas de que duas empresas que atuam no comércio balístico brasileiro formaram um cartel.


A PF suspeita, inclusive, de envolvimento pessoal do comandante da intervenção federal, o general da reserva Walter Braga Netto, no caso. Segundo informações do portal G1o candidato à vice-presidência na chapa de Jair Bolsonaro (PL) pediu autorização do TCU para comprar 8 mil coletes balísticos para o estado do RJ. A publicação aponta, com base em documentação usada nas investigações, que Braga Netto afirmou, na petição ao órgão de controle, que “o uso desse material bélico é de importância vital para o agente de segurança pública em serviço, tendo em vista a grande quantidade de armamento pesado (fuzil), atualmente, utilizado por criminosos”.

Braga Netto não foi alvo das buscas desta terça, mas teve o seu sigilo telefônico quebrado. Ele ainda não se pronunciou sobre a operação de hoje, que cumpriu 16 mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Minas Gerais e no Distrito Federal. Os alvos da operação de hoje são ex-integrantes do Gabinete de Intervenção Federal.

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