Acusado pela morte do morador de rua em NY arrecada mais de US$ 2 milhões para pagar advogados

O agressor foi solto após pagar 100 mil dólares em fiança, mas ainda responderá por homicídio culposo

Foto: AFP/Reprodução

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O ex-fuzileiro naval dos Estados Unidos Daniel Penny, acusado de homicídio culposo após estrangular fatalmente o morador de rua Jordan Neely, recebeu milhões em doações para arcar com os honorários de defesa. 

O valor arrecadado já ultrapassa dois milhões de dólares — em conversão para a moeda brasileira significa nove milhões de reais. 

Os principais financiadores são o comentarista político Tim Pool, que contribuiu com 20 mil dólares, o candidato presidencial republicano Vivek Ramaswamy, que doou 10 mil dólares e o músico Kid Rock que destinou 5.000 dólares ao fundo — conforme descrito no próprio site. 

A campanha no site cristão de arrecadação de fundos GiveSendGo foi criada pelos advogados de Penny na empresa Raiser and Kenniff.

Daniel Penny, de 24 anos, foi preso e acusado de homicídio culposo em segundo grau pela morte do artista e morador de rua – o caso provocou protestos em Nova York e teve repercussão mundial.

No dia, Neely estava gritando com os passageiros no trem de Manhattan — onde é conhecido pelas imitações de Michael Jackson. Penny foi gravado estrangulando Neely por dois minutos e 55 segundos, enquanto outros dois homens o seguraram. 


O homem negro de 30 anos tinha histórico de doenças mentais desde a morte da mãe — vítima de feminicídio. 

Segundo o jornalista, que registrou o momento, Neely estaria gritando: “Não tenho comida, não bebo, estou farto. Não me importo de ir para a cadeia e pegar prisão perpétua. Estou pronto para morrer.’”

O ex-fuzileiro foi interrogado e liberado após pagar uma fiança de 100 mil dólares. Ele deve comparecer ao tribunal em 17 de julho, se condenado, pode pegar até 15 anos de prisão.

Embora os fortes protestos, sobretudo do movimento negro norte-americano e dos defensores da saúde mental, o ex-fuzileiro recebeu uma grande onda de apoio de personalidades da direita, que argumentaram que ele agiu em prol da segurança pública.

Um deles foi o governador da Flórida, Ron DeSantis, que elogiou o homem. “Devemos derrotar os promotores financiados por Soros, parar a agenda pró-criminosa da esquerda e retomar as ruas para os cidadãos cumpridores da lei”, escreveu DeSantis. “Apoiamos bons samaritanos como Daniel Penny. Vamos mostrar a esse fuzileiro naval … a América o protege”.

A defesa reforça a ideia de que o ex-fuzileiro agiu em legítima defesa. No entanto, segundo disseram a mídia local, testemunhas sustentam que Neely não atacou ninguém antes de ser derrubado por trás.

O texto ainda diz que além dos custos com a defesa neste caso, o valor arrecadado pode ser usado para futuras ações. Além de que “qualquer receita arrecadada que exceda o necessário para cobrir a defesa legal do Sr. Penny será doada a um programa de defesa da saúde mental na cidade de Nova York”.

Em entrevista à Fox News, o advogado Thomas Kenniff disse que “Daniel está incrivelmente grato pelo apoio de tantos nova-iorquinos”. Outro advogado, Steven M. Raiser, também reafirmou à emissora a tese de que ele agiu para proteger os passageiros. “Ele é quem se colocou em perigo para salvar, quem? Todas as pessoas naquele trem. Negros, pardos, brancos, isso não importava para Penny. Penny colocou sua vida em risco para salvar todas aquelas pessoas.”

A família do morador de rua morto criticou a declaração e a campanha de doação. “No primeiro parágrafo [do texto da campanha de doação] ele fala sobre o quão ‘bom’ ele é e no parágrafo seguinte ele [o agressor] fala sobre o quão ‘ruim’ Jordan era, em um esforço para nos convencer de que a vida de Jordan era ‘inútil’”, disseram advogados da família Neely “A verdade é que ele não sabia nada sobre a história de Jordan quando intencionalmente colocou os braços em volta do pescoço de Jordan e apertou e apertou.”.


 

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