Ajuda de US$ 24 bi à Ucrânia é descartada em orçamento provisório que evitou ‘shutdown’ dos EUA

Desde o início da guerra, em fevereiro de 2022, US$ 110 bilhões saíram dos cofres públicos americanos para Kiev

Zelensky e Biden se encontram para discutir o apoio americano à Ucrânia. Foto: Alex Wong/Getty Images/AFP

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O Congresso americano aprovou na noite de sábado (30), a três horas do fim do prazo, um projeto de lei de financiamento provisório para evitar uma paralisação das administrações federais. No entanto, uma ajuda de US$ 24 bilhões a Kiev, como defendia o presidente Joe Biden, foi deixada de fora do texto.

A poucas horas do “shutdown”, o Senado americano, de maioria democrata, aprovou um orçamento temporário, por 88 votos a favor e 9 contra, salvando o país até 17 de novembro de uma paralisação. Um pouco antes, a Câmara de Representantes, dominada pelos republicanos, também adotou o texto por 335 a 91. O projeto foi enviado rapidamente para que Biden o promulgasse, antes da meia-noite de sábado.

“Os americanos podem ficar aliviados. Não haverá nenhum fechamento das administrações federais nesta noite”, declarou o líder da maioria democrata no Senado, Chuck Schumer, após o voto.

A solução veio depois que o presidente da Câmara, o republicano Kevin McCarthy, fez uma última tentativa para evitar a paralisação, situação que colocaria em risco vários setores americanos, das operações militares até a ajuda alimentar, passando pela formulação de políticas federais. Chamada de “stopgap”, a medida permite que as instituições do governo continuem em atividade por 45 dias. No entanto, o orçamento temporário exclui a ajuda militar e humanitária à Ucrânia de US$ 24 bilhões, como desejava Biden.

Essa, aliás, era uma das principais questões que bloqueavam um consenso entre democratas e republicanos. Boa parte dos conservadores são contra a continuação do apoio bilionário de Washington à Kiev, diante da perpetuação da guerra na Ucrânia e da oposição do eleitorado trumpista à ajuda. Para os resistentes, o montante deveria ser destinado à gestão da crise imigratória nos Estados Unidos.

Segundo Julien Toureille, pesquisador do Observatório dos Estados Unidos na Universidade do Québec em Montreal (UQAM), essa é uma prova do quanto questões internacionais podem ter uma interferência expressiva em assuntos internos americanos, “desestabilizando e tornando incompreensível esse jogo político em Washington”.


No entanto, para ele, essa não pode ser considerada uma vitória dos republicanos. “O fato que os democratas tenham aceitado avançar [na aprovação do orçamento] sem a ajuda à Ucrânia mostra que eles estão suficientemente confiantes que essa situação poderá ser corrigida rapidamente”, analisa Toureille, em entrevista à RFI.

Trabalhar junto aos Estados Unidos

Apesar de não ter sido incluída no projeto de lei temporário aprovado no sábado, a ajuda militar e humanitária a Kiev deverá voltar ao centro dos debates dos congressistas americanos na próxima semana. “Há esperanças de que nos próximos dias, no âmbito de uma lei separada, os congressistas acabem se entendendo, porque mesmo se os republicanos, principalmente os trumpistas, se oponham a um novo apoio à Ucrânia, a maioria dos democratas é favorável e, evidentemente, a Casa Branca”, destaca o pesquisador.

Neste domingo (1°), o governo ucraniano indicou que “trabalha” junto aos Estados Unidos para garantir uma decisão a favor da Ucrânia, crucial para combater o avanço das forças russas em seu território. Desde o início da guerra, em fevereiro de 2022, US$ 110 bilhões saíram dos cofres públicos americanos para Kiev.

Consciente dos problemas políticos de seu principal aliado, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, visitou na semana passada o Congresso americano para tentar convencer Washington a não desistir de ajudar seu país. Nos Estados Unidos, o líder também se reuniu duas vezes presencialmente com Joe Biden e discursou na 78ª edição da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York.

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