Avós da Praça de Maio encontram o 133º neto sequestrado pela ditadura na Argentina

O homem é sobrinho de Mario Santucho, líder fundador da organização guerrilheira PRT-ERP

Créditos: Luis ROBAYO / AFP

Apoie Siga-nos no

A organização Avós da Praça de Maio encontrou o neto 133, que foi apropriado durante a ditadura militar, e é sobrinho de Mario Santucho, líder fundador da organização guerrilheira PRT-ERP, cuja mãe, Cristina Navajas, foi sequestrada em 1976 e permanece desaparecida.

O anúncio da descoberta foi feito nesta sexta-feira 28 pela organização humanitária em uma coletiva de imprensa, na qual esteve presente Miguel Santucho, um dos três filhos de Navajas e Julio César Santucho. Miguel há anos buscava seu irmão.

“Essa busca não pode ser sustentada sem o apoio de todos. Sempre tive vários braços me sustentando. Isso foi muito importante. Meu pensamento hoje está com meus irmãos e irmãs que ainda estão procurando. Desejo a todos que experimentem o que estou sentindo agora”, disse Miguel Santucho.

“Tenho sobrinhos novos. A família aumentou com pelo menos três pessoas: um irmão e dois sobrinhos”, comemorou.

O neto recuperado se reencontrou com sua família ainda nesta sexta-feira, pouco antes da coletiva de imprensa, da qual não participou. Anteriormente, os irmãos já haviam se conhecido por uma chamada de vídeo.

“Ele expressou o desejo de nos conhecer. Estava feliz e surpreso. Levará tempo para ele assimilar a magnitude do que encontrou”, disse Miguel Santucho.


“Não posso deixar de dizer que ele é lindo, é um garoto lindo. Nós o conhecemos hoje e ele sabe o que o espera. Sinto que encontrei um ser iluminado. O abraço que trocamos será para sempre”, acrescentou.

 

“Vitória da democracia”

A pessoa encontrada é um homem que se aproximou de maneira espontânea das Avós da Praça de Maio. Foi apropriado por um casal formado por um militar e uma enfermeira que já tinha uma filha 20 anos mais velha, indicaram as Avós.

Há quase cinco anos, a filha desse casal revelou que eles não eram os seus verdadeiros pais. As Avós não deram detalhes sobre onde o neto recuperado vive atualmente, nem se os apropriadores seguem vivos.

A descoberta do neto 133 ocorre depois da morte, em 2012, de sua avó Nélida Gómez de Navajas, que foi secretária da organização.

“É uma vitória da democracia e uma derrota da ditadura, porque eles queriam tirar os nossos filhos e estamos recuperando eles”, declarou seu pai Julio César Santucho, também presente na coletiva de imprensa.

Cristina Navajas, militante do PRT-ERP, foi sequestrada quando estava grávida de dois meses, em 13 de julho de 1976, ao lado de sua cunhada Manuela Santucho e Alicia Raquel D’Ambra.

O PRT-ERP foi uma organização guerrilheira de orientação trotskista que atuou durante a mesma época que os peronistas do Motoneros.

Mario Santucho morreu em 1976, em um confronto quando um grupo militar cercou o domicílio no qual se encontrava junto de outros líderes do PRT-ERP. A ditadura desapareceu com os seus restos mortais.

A ditadura argentina (1976-1983) causou aproximadamente 30.000 desaparecidos, segundo os organismos de direitos humanos. As Avós da Praça de Maio seguem buscando ainda 300 netos nascidos durante o tempo em que suas mães foram mantidas em cativeiro.

Leia também

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

 

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.