Bento XVI teria acobertado abuso sexual contra menores, diz jornal alemão

O padre Peter H. teria abusado de ao menos 23 meninos com idades entre 8 e 16 anos; ainda assim, foi aceito em Munique por Bento XVI

Papa Bento XVI. Foto: AFP

Apoie Siga-nos no

O Papa emérito Bento XVI teria acobertado casos de abuso sexual contra menores dentro da Igreja Católica. A informação foi revelada pelo jornal alemão Die Zeit a partir de um documento oficial da igreja.

Os episódios acobertados por Bento XVI teriam acontecido entre os anos 1970 e meados de 1990 na Alemanha. Na ocasião, ele era arcebispo de Munique e Freising. De acordo com o documento, o padre Peter H. teria abusado sexualmente de pelo menos 23 meninos com idades entre 8 e 16 anos.

O sobrenome de Peter não foi revelado pelo jornal. As informações dão conta apenas de que ele era membro da diocese de Essen e, após as denúncias, foi afastado, mas não expulso da Igreja. De acordo com o jornal, Peter não respondeu pelas acusações e foi diagnosticado com transtorno narcísico com pederastia e exibicionismo.

O relato do jornal também revela que, após ser afastado de Essen, Peter foi aceito por Joseph Ratzinger – nome do Papa Bento – na arquidiocese de Munique e Freising, sob seu comando nos anos 1980. Em 1986, o padre foi condenado por abusar de 11 meninos e condenado a 18 meses de prisão. Ao final da sentença, foi reintegrado e manteve seu posto em Munique, dessa vez recebido pelo substituto de Ratzinger na arquidiocese.

“Os bispos em Munique e Essen não cumpriram sua responsabilidade para com as crianças e os jovens confiados aos seus cuidados pastorais”, diz um trecho do decreto eclesiástico de 2016 obtido pelo jornal alemão.

“O então arcebispo Ratzinger estava ciente dos fatos sobre a admissão de Peter H. […] Nem uma investigação preliminar foi iniciada, nem um procedimento criminal na Igreja”, diz o decreto em outro trecho. “Ratzinger deliberadamente renunciou a denunciar o crime.”


Bento XVI negou que tivesse conhecimento do crime à época em que recebeu Peter H. na sua arquidiocese. Segundo sua defesa, foi o vigário-geral Gerhard Gruber, seu subordinado, quem aceitou a integração do religioso em Munique. A versão é confirmada por Gruber e já havia sido usada em 2010, como parte da defesa de Bento, mas não é bem recebida por especialistas em hierarquia da Igreja.

Bento XVI renunciou ao papado em 2013, quando o argentino Francisco foi escolhido em seu lugar para comandar a Igreja. Antes de se tornar Papa, em 2005, Ratzinger comandou o núcleo do Vaticano que apura abusos sexuais na Igreja Católica por quatro anos.

 

Leia também

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

 

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.