Bloqueios aumentam no Peru em meio à crise social e política

Pedidos de libertação de Pedro Castillo e a formação de uma Assembleia Constituinte fazem parte da agenda

Arequipa é um dos pontos de manifestação no Peru. Foto: Diego Ramos/AFP

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Mais de 100 trechos de rodovias no Peru permaneciam bloqueados por manifestantes neste sábado 14, enquanto o aeroporto de Cusco retomava as operações, um dia após a presidente Dina Boluarte garantir que não renunciaria.

As regiões do sul andino, algumas das mais marginalizadas do Peru, estão tomadas por uma convulsão social incessante que já deixou pelo menos 42 mortos desde o início de dezembro, segundo líderes civis e organizações de direitos humanos.

“Existem setores extremistas que buscam criar desordem e caos, com interesses subordinados (…). Estamos mais fortes do que nunca, com um gabinete ministerial comprometido em lutar pelo país”, disse Boluarte na sexta-feira, conforme crescia a pressão política que exigia sua renúncia.

Como vice-presidente de Pedro Castillo, Boluarte assumiu o cargo em 7 de dezembro, após ele fracassar na tentativa de um autogolpe, ser destituído pelo Congresso e preso.

Os fechamentos de vias afetavam neste sábado 11 regiões dos Andes e da Amazônia, especialmente no sul, perto das fronteiras com a Bolívia e o Chile. De acordo com estatísticas da Superintendência de Transportes Terrestres, nunca houve tantos bloqueios na atual crise.

Mas em Cusco, meca do turismo internacional, as autoridades reativaram as operações do aeroporto Velasco Astete, fechado por dois dias por segurança. Com a medida, o governo busca recuperar a atividade na área, onde sindicatos locais afirmam perder até 7 milhões de soles por dia (1,7 milhão de dólares) com a crise.


“Rejeitemos a violência”

Boluarte dirigiu-se ao país na sexta-feira após a renúncia e substituição dos ministros do Interior, do Trabalho e da Mulher. A presidente pediu ao Congresso que agilize os trâmites para a realização de eleições antecipadas em abril de 2024 e pediu desculpas pelas mortes provocadas pela crise.

“Peço perdão por esta situação e pelo que não foi feito para evitar esses trágicos acontecimentos. Mas, assim como peço perdão, peço que rejeitemos a violência.”

Vários coletivos, especialmente do sul dos Andes, exigem a renúncia de Boluarte, que consideram responsável pela violência. Também reivindicam o fechamento do Congresso, controlado pela direita, e a realização imediata de eleições.

Pedidos de libertação de Castillo – em prisão preventiva enquanto é processado por suposta rebelião – e a formação de uma Assembleia Constituinte também fazem parte da agenda.

Andes sem trégua

Os protestos foram retomados na semana passada após uma espécie de trégua no final do ano e se concentraram no sul andino, onde vivem comunidades quechuas e aymaras que, segundo analistas, foram historicamente marginalizadas.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que visitou o país esta semana, considerou que para superar definitivamente a crise será necessário integrar essas comunidades.

Alguns grupos de manifestantes dessas regiões ameaçam viajar a Lima para uma “tomada da cidade” que obrigaria Boluarte a renunciar e geraria um quadro que forçaria eleições o mais rápido possível.

Ameaça de grupos radicais

As autoridades insistem que setores ultrarradicais estão por trás dos protestos, incluindo remanescentes do grupo guerrilheiro Sendero Luminoso.

Como prova, apresentaram a captura esta semana de um ex-integrante dessa organização, Rocío Leandro, conhecida como “Camarada Cusi”.

De acordo com um porta-voz da polícia, general Óscar Arriola, Leandro financiou o vandalismo que deixou uma dezena de mortos na região de Ayacucho.

“Cusi” e sete pessoas capturadas junto com ela, segundo a polícia, pretendem formar um novo grupo terrorista chamado Nueva Fracción Roja.

Organizações de esquerda rejeitaram a versão policial, que apontam como uma estratégia para criminalizar os protestos.


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