“Bolsonaro: golpista amador ou ameaça à democracia brasileira?”, questiona jornal Le Monde

O mais importante, ressalta o Le Monde, é saber se as instituições poderiam resistir a um eventual ataque

O presidente Jair Bolsonaro. Foto: Evaristo Sá/AFP

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O presidente brasileiro abre na terça-feira 21 a Assembleia Geral da ONU. Como é de praxe, o Brasil é o primeiro a discursar em Nova York. O correspondente do jornal francês Le Monde no Brasil, Bruno Meyerfeld, levanta dúvidas sobre “quais seriam as reais intenções do confuso líder do gigante sul americano”, em relação às eleições presidenciais que se aproximam.

A ordem parece reinar em Brasília alguns dias após os atos do último 7 de setembro, quando a capital foi invadida por milhares de manifestantes de extrema direita. “O Brasil parecia a um passo de um golpe de Estado”, conta Bruno Meyerfeld. Bolsonaro recuou. Em declaração por escrito, diz nunca ter tido a intenção de violar qualquer poder. E que “a harmonia entre eles” não é sua vontade, mas “determinação constitucional que todos, sem exceção devem respeitar”.

“Mas quais as verdadeiras intenções por trás dessas declarações? Seria ele um golpista incompetente, ou pelo contrário, uma ameaça direta à democracia?”, pergunta o correspondente.

“O debate é amplo: é preciso entrar no pensamento de um dos líderes mais imprevisíveis do mundo”, diz Le Monde. Há três ano, Bolsonaro confunde observadores. Há os que enxergam nele um psicopata na pior das hipóteses, ou, apenas uma variante tropical do trumpismo. O jornalista alerta que não se pode ignorar as linhas de força que estruturam um homem dotado de uma personalidade mais complexa do que aparenta.

“Caudilho golpista”

A princípio, Bolsonaro tem todas as características de um caudilho golpista latino-americano, aponta Le Monde. Militar, imbuído da “caça aos comunistas” dos anos 1970, apaixonado pela ditadura. Desde sua posse, Bolsonaro alimenta a febre golpista, mas acaba recuando e negociando. “Por quê?” pergunta o Le Monde. Por medo? Ou pragmatismo?

Le Monde analisa que Bolsonaro não é apenas produto da ditadura, mas da nova democracia brasileira. Dois pólos dominam seu governo: de um lado, o exército, de outro, o chamado centrão, “composto por partidos oportunistas, sem ideologia”, que receberam postos e recursos de peso.


Sem nunca ter deixado de negociar com as elites, Bolsonaro “encarna uma síntese do Brasil: uma hora é o homem do ‘golpe’, depois é do ‘toma lá, dá cá’”. Para o jornal francês, ele é o resumo dos últimos 60 anos de história política do Brasil.

Instituições podem resistir?

O mais importante, ressalta o Le Monde, é saber se as instituições poderiam resistir a um eventual ataque. Um ponto positivo, analisa o correspondente, é que até o momento, o Supremo Tribunal Federal e, de maneira mais moderada, o Senado e governadores impuseram uma frente democrática aos ataques do capitão.

“Mas até quando?”, questiona o jornal. “A democracia brasileira é jovem, as instituições são frágeis e facilmente corrompíveis”. A grande maioria da população apoia a democracia, mas ela está preocupada com a crise econômica, a explosão do desemprego, da miséria e da inflação.

“A apatia e o cada um por si” domina no Brasil a um ano da eleição presidencial. Alguns, em Brasília, cita o jornalista francês, comparam Bolsonaro a um jacaré de boca aberta, um animal perigoso e astuto, esperando pacientemente a sua hora de dar o bote.

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