Brasileiro que salvou criança em Dublin será candidato

Ex-entregador, Caio Benicio atingiu com golpes de capacete um homem que esfaqueava crianças. Agora, ele concorrerá ao cargo de vereador na capital irlandesa

Créditos: Reprodução / Redes Sociais

Apoie Siga-nos no

Um brasileiro que impediu que um ataque a faca em Dublin, na Irlanda, fizesse ainda mais vítimas vai concorrer a uma vaga no Conselho Municipal da capital irlandesa nas eleições de 7 de junho. O cargo equivale ao de vereador no Brasil.

Desde aquela tarde de 23 de novembro, a vida de Caio Benicio, de 43 anos, mudou drasticamente. O ex-entregador conduzia sua moto pelo centro da cidade a trabalho quando se deparou com uma confusão que pensou tratar-se de uma briga. Mas logo percebeu que um homem estava esfaqueando crianças. Benicio desceu da moto e, com golpes de capacete, atingiu o agressor, que caiu na calçada. Antes, três crianças e uma mulher haviam sido esfaqueadas.

Após o ato, Benicio foi tratado como herói, homenageado pelo então primeiro-ministro irlandês e recebeu uma medalha de coragem. Uma vaquinha criada inicialmente para comprar uma moto e um capacete para ele arrecadou 300 mil libras, o equivalente a quase R$ 2 milhões.

Em dezembro, depois da fama repentina, Benicio viajou a Niterói, no Rio de Janeiro, para se reunir com a esposa e os filhos. Lá, diz, refletiu sobre a vida. Inicialmente, o plano dele era permanecer na Irlanda até juntar dinheiro para abrir um negócio no Brasil, onde era dono de um restaurante que pegou fogo.

“Eu poderia estar na praia do Rio”, disse Benicio ao jornal britânico The Guardian. “Mas qual seria o significado? Seria egoísta se eu pegasse todo o dinheiro e voltasse para o Brasil”, conta.

 


Duas faces de uma mesma moeda

A história do ato heroico de Benicio também se tornou o exemplo de duas faces da imigração no país: enquanto o agressor, um homem de ascendência argelina, esfaqueava crianças na via pública, um outro imigrante, brasileiro, impedia que a tragédia fosse ainda maior.

Na noite após o atentado a faca, um protesto anti-imigração eclodiu em Dublin, culminando em violentos confrontos entre polícia e manifestantes e sendo classificado pelas autoridades como “o pior episódio de violência em décadas no país”.

“Acho que os irlandeses ficaram envergonhados com o que aconteceu naquela noite e foi assim que puderam mostrar ao mundo que aquele pequeno grupo de pessoas não representava a Irlanda”, disse ao The Guardian, referindo-se aos protestos.

 

A voz dos entregadores

Também ao jornal, Benicio conta que a política extremamente polarizada do Brasil não o agrada, mas que, na Irlanda, se identifica e conhece os problemas enfrentados por entregadores e imigrantes em geral. Agora candidato, quer se tornar a voz deles.

Benício concorre pelo partido Fianna Fáil, liberal, de orientação centrista e atualmente no poder. E, após a inicial reticência de alguns nomes da legenda, conta com o apoio de políticos de peso.

“Estou muito feliz que Caio vai disputar as próximas eleições locais”, escreveu na rede social X Micheál Martin, líder do Fianna Fáil e ministro das Relações Exteriores. “Caio quer desempenhar um papel maior em sua comunidade e acho que ele será um excelente representante público”.

Entre suas principais bandeiras, está a população imigrante, a segurança pública e os direitos dos trabalhadores da gig economy.

Na bagagem, leva a vivência de quem, como entregador, enfrentou a hostilidade de adolescentes e más condições de trabalho nas ruas. “É difícil, você tem que enfrentar o frio, o vento, a chuva”, destaca, mencionando também os ataques de adolescentes contra entregadores.

Ele também ressalta que os jovens que têm como alvo os entregadores devem ser educados e ensinados sobre a história de emigração no país.

De acordo com o jornal irlandês Irish Examiner, a Irlanda conta com uma comunidade de brasileiros de mais de 70 mil pessoas. Ao periódico, Bernicio disse que sabe da importância da mão de obra estrangeira no país. “Se todos fossem para casa, haveria grandes problemas na força de trabalho irlandesa”, comentou.

Leia também

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

 

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.