Mundo

Candidato reformista avança como favorito para 2º turno das eleições presidenciais no Irã

Cerca de 61 milhões de eleitores iranianos foram chamados para votar na sexta-feira, nestas eleições organizadas às pressas após a morte do presidente ultraconservador Ebrahim Raisi

ATTA KENARE / AFP
Apoie Siga-nos no

O Irã terá um segundo turno das eleições presidenciais em 5 de julho, anunciou neste sábado (29) o Ministério do Interior iraniano.

O candidato reformista Masud Pezeshkian, ex-ministro da Saúde, surpreendeu e chegou em primeiro lugar na votação realizada na sexta-feira (28), à frente do ultraconservador Said Jalili. O reformista de 69 anos defende um aquecimento das relações entre o Irã e os países ocidentais, enquanto Jalili, de 58 anos, é contra, mas tem a confiança do líder supremo do Irã.

Segundo a legislação eleitoral iraniana, como nenhum concorrente obteve mais de 50% dos votos, a decisão foi para o segundo turno, o que só aconteceu uma vez em 14 presidenciais realizadas desde a Revolução Islâmica de 1979, no ano de 2005.

Dos 24,54 milhões de votos apurados, o deputado Masud Pezeshkian obteve 10,41 milhões de votos, o equivalente a 42% dos sufrágios, contra 38% do segundo colocado, Said Jalili, ex-negociador do programa nuclear que obteve 9,47 milhões de votos. Ambos chegaram bem à frente do presidente conservador do Parlamento, Mohamad Baquer Ghalibaf, que reuniu 3,38 milhões de vozes. O único clérigo na disputa, o candidato Mostafá Pourmohammadi, ficou em quarto lugar com 206.397 votos.

Eleições às pressas

Cerca de 61 milhões de eleitores iranianos foram chamados para votar na sexta-feira, nestas eleições organizadas às pressas após a morte do presidente ultaconservador Ebrahim Raisi, vítima de um acidente de helicóptero em 19 de maio. Apesar do apelo insistente do aiatolá Khamenei para os iranianos levarem a votação a sério, apenas 40% dos eleitores depositaram um boletim nas urnas, o que representa a participação mais baixa registrada em um primeiro turno de eleição presidencial desde a revolução que derrubou o xá do Irã. Os opositores, principalmente os que vivem no exterior, defenderam um boicote à votação.

As autoridades desejavam uma forte participação, uma vez que as eleições presidenciais de 2021, para as quais nenhum candidato reformista ou moderado foi autorizado a concorrer, foram marcadas por uma abstenção recorde de 51%. Apenas 41% dos eleitores também votaram nas eleições legislativas realizadas em março.

O segundo turno será acompanhado de perto no exterior, já que o Irã, um dos países mais influentes do Oriente Médio, está no centro de diversas crises geopolíticas, como a guerra na Faixa de Gaza, conflito no qual Teerã apoia o movimento islâmico Hamas contra o adversário regional Israel. O país também se posiciona ao lado dos rebeldes xiitas huthis na guerra civil no Iêmen e se opõe aos países ocidentais em relação ao seu programa nuclear.

Candidatos muito diferentes

Embora o presidente do Irã tenha poderes limitados, com uma atuação à frente do governo que se limita a aplicar as principais diretrizes políticas definidas pelo líder supremo, que é o chefe de Estado, os dois finalistas defendem propostas bastante distintas.

Cirurgião de profissão, Masud Pezeshkian é membro do parlamento de Tabriz, a maior cidade da região noroeste do Irã. Ele foi ministro da Saúde de 2001 a 2005 no governo reformista de Mohammad Khatami. Ele ficou conhecido pela sua franqueza, não tendo hesitado em criticar o governo durante o movimento de protesto provocado pela morte da jovem curda-iraniana Mahsa Amini, enquanto esteve em custódia policial, devido a um véu islâmico mal posicionado na cabeça em setembro de 2022.

Ele também defende um reaquecimento das relações entre o Irã e os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, a fim de levantar as sanções que afetam a economia iraniana.

Na contramão dessa linha moderada, o candidato ultraconservador Said Jalili defende uma política inflexível em relação ao Ocidente. Ele demonstrou firmeza durante os seis anos em que liderou as negociações sobre o programa de energia nuclear iraniano, entre 2007 e 2013, suspeito de servir para fins militares.

Ao longo da sua carreira, Jalili ascendeu a posições-chave na República Islâmica com a confiança do aiatolá Khamenei. Atualmente, Jalili é um dos dois representantes do líder supremo no Conselho Supremo de Segurança Nacional, o mais alto órgão de segurança do país.

Diante dos resultados do primeiro turno, que colocam o candidato reformista como favorito na disputa, a imprensa iraniana tomou posição na manhã de sábado. “Viva a esperança”, dizia a manchete do jornal reformista Sazandegi sobre uma fotografia de Massoud Pezeshkian. O principal jornal governista apelava às pessoas para “votarem na autoridade do Irã”.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo