Mundo
Casa de Mandela vira ponto de peregrinação
No local, foi improvisado um pequeno memorial com velas e flores
Enquanto são organizadas as cerimônias oficiais para o último adeus ao ícone da luta contra o apartheid, milhares de sul-africanos se uniram espontaneamente no sábado 7 para prestar homenagem a Nelson Mandela.
Nas ruas e nos meios de comunicação só se fala de Tata (pai) Mandela e de tudo o que o país de 53 milhões de habitantes deve a ele. Metade da população sul-africana tem menos de 25 anos e não acompanhou grande parte da luta contra a segregação racial.
As pessoas continuavam chegando à casa do ex-presidente, onde foi improvisado um pequeno memorial com velas e flores, e em outros locais emblemáticos, como a antiga casa de Mandela, em Soweto, em meio a um ambiente descontraído que contrastava com a paranoia em torno da segurança em um país com altas taxas de criminalidade.
“Felizmente, minha filha hoje vai ao colégio com negros, brancos, mestiços, indianos, todos juntos, algo impensável durante o apartheid”, contou Dineo Matjila, em frente à casa do ex-presidente.
Em Qunu, aldeia onde Mandela passou sua infância, o clima era de silêncio e tristeza.
O rei Thembu, o clã dos Mandela, Dalindyebo, deve viajar a Johannesburgo para se reunir com a família do líder da luta contra o preconceito e preparar a cerimônia tradicional, um dia antes do enterro.
No próximo domingo, espera-se que lideranças mundiais, artistas e líderes espirituais de todo o mundo participem do enterro. Também podem assistir a outro serviço fúnebre, no estádio Soccer City de Soweto, na terça-feira.
Foi lá que Mandela fez sua última aparição pública, durante a final da Copa do Mundo de 2010, já muito debilitado.
Barak Obama, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, viajará para a África do Sul na semana que vem, anunciou a Casa Branca, assim como os ex-presidentes George W. Bush e Bill Clinton, juntando-se a diversos dirigentes de todo o mundo que marcarão presença em uma grande cerimônia no dia 10 de dezembro.
As cerimônias serão transmitidas ao vivo pela televisão e em vários telões gigantes espalhados pelo país.
O ministro sul-africano da Presidência, Collins Chabane, agradeceu em nome de todos os sul-africanos “a generosidade, a amabilidade e o calor com que milhões de pessoas reagiram à morte” de Mandela, o fundador da África do Sul moderna e o primeiro chefe de Estado negro do país, na quinta-feira aos 95 anos.
“Entramos neste período com pesar e tristeza”, disse o ministro, “mas também com a valentia, a continuidade e a esperança no futuro que Madiba desejava para seu país”, acrescentou, no momento em que a África do Sul vive uma época de desencanto e pressão daqueles que querem algo a mais para a maioria negra do que o direito de voto conquistado em 1994, como emprego, habitação e um ensino público de qualidade.
Vários países, como o Chade ou Senegal, decretaram luto nacional, enquanto em outros, como os Estados Unidos, as bandeiras tremulavam a meio-mastro.
Na África do Sul, o período de luto vai durar dez dias, anunciou na sexta o presidente Jacob Zuma.
Na segunda-feira, o Parlamento vai realizar uma sessão extraordinária, após uma jornada ecumênica de reflexão e orações na qual os sul-africanos serão convocados a ir a igrejas, mesquitas, sinagogas e outros templos religiosos.
Os restos mortais de Mandela serão levados em procissão por Pretória na quarta, na quinta e na sexta-feira e velados em Union Building, a sede da Presidência sul-africana, em Pretória, para que seus compatriotas possam dar um último adeus. No dia 15 de dezembro, será realizado um funeral de Estado em seu povoado natal, Qunu.
Nas últimas horas foi organizada a logística para receber personalidades de todo o mundo, que viajarão à África do Sul para prestar homenagem ao estadista.
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