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China pede que caso da tenista Peng Shuai não seja ‘exagerado’ nem ‘politizado’

Após acusar de abuso sexual um ex-ministro chinês, a tenista não foi vista por semanas, o que alimentou a preocupação com sua situação

Peng Shuai desapareceu após ter acusado uma ex-autoridade do país de tê-la forçado a manter relações sexuais AFP
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A China fez um pedido nesta terça-feira (23) para que o o caso da tenista Peng Shuai não seja “politizado” e “exagerado”, em uma reação oficial incomum às acusações de relação sexual “forçada” feitas pela atleta contra um ex-dirigente do regime comunista.

A tenista de 35 anos, campeã de duplas em Wimbledon-2013 e Roland Garros-2014, publicou no início de novembro na rede social chinesa Weibo uma longa mensagem sobre sua relação com o ex-vice-primeiro-ministro Zhang Gaoli, 40 anos mais velho que ela.

No texto, com formato de carta aberta, Shuai revelava sentimentos a respeito do ex-dirigente, aposentado desde 2018. Ela o acusava particularmente de tê-la forçado a manter uma relação sexual há três anos.

Até esta terça-feira, o ministério chinês das Relações Exteriores havia se recusado a fazer qualquer comentário sobre o assunto, alegando que não dizia respeito à esfera diplomática.

Questionado novamente sobre o impacto da polêmica para a imagem da China, o porta-voz do ministério, Zhao Lijian, respondeu de maneira breve.

“Eu penso que algumas pessoas deveriam parar de exagerar de maneira deliberada e maliciosa, parar de politizar o tema”, afirmou.

O porta-voz não explicou a que pessoas se referia em suas declarações.

Vários tenistas consagrados, de Chris Evert a Novak Djokovic, e governos de países ocidentais pediram a Pequim que revelasse detalhes sobre o paradeiro da atleta e seu estado de saúde.

Ceticismo da WTA

Após a censura de sua mensagem no início de novembro, a tenista não foi vista por semanas, o que alimentou a preocupação com sua situação.

Shuai reapareceu no fim de semana passado em um restaurante de Pequim e em um torneio de tênis disputado na capital chinesa, de acordo com vídeos publicados pela imprensa estatal.

No domingo ela conversou por videoconferência com o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach. Ela disse que estava “são e salva”, mas que gostaria que sua vida privada fosse “respeitada”.

A WTA, entidade que comanda o circuito profissional do tênis feminino, expressou ceticismo.

“Foi bom ver Peng Shuai em vídeos recentemente, mas não atenuam nem respondem a preocupação da WTA a respeito de seu bem-estar e de sua capacidade de comunicação sem censura nem coerção”, afirmou a organização na segunda-feira.

“Este vídeo não muda nada em nosso apelo por uma investigação exaustiva, justa e transparente, sem censura, sobre as acusações de agressão sexual”.

A WTA ameaça retirar a China do circuito de torneio caso as autoridades do país não investiguem as acusações da tenista.

Perplexa após a videoconferência de Thomas Bach com Peng Shuai, a organização Human Rights Watch (HRW) acusou o COI “colaboração ativa” com Pequim.

“O COI parece dar mais importância a sua relação com um país que viola os direitos humanos que aos direitos e à segurança dos atletas olímpicos”, afirmou a organização em um comunicado.

Em sua mensagem, Peng Shuai também citou os sentimentos a respeito de Zhang Gaoli, suas “personalidades complementares”, suas partidas de pingue-pongue ou de sinuca.

Mas ela também o criticava por tê-la levado a uma relação tóxica, com uma convivência incômoda com sua esposa e uma história escondida das pessoas, já que a vida privada dos dirigentes políticos é tabu na China.

Ambos foram amantes até uma disputa poucos dias antes da denúncia, segundo as palavras da tenista.

Zhang Gaoli, de 75 anos, era até o início de 2018 membro do comitê permanente do Bureau Político do Partido Comunista, e por isto um dos sete homens oficialmente mais poderosos do país.

A maioria dos chineses não sabe do caso, que é censurado na imprensa e nas redes sociais do país.

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