Columbia cancela cerimônia de formatura por protestos contra guerra em Gaza

Decisão da administração da universidade foi duramente criticada pelos estudantes

Protesto pró-Palestina na Universidade de Columbia, nos EUA. Foto: Emily Byrski / AFP

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A Universidade de Columbia, epicentro dos protestos contra a guerra em Gaza, anunciou, nesta segunda-feira (6), que cancelou a principal cerimônia de formatura da denominada “geração covid”, que aconteceria no dia 15 de maio.

Os protestos em prol da causa palestina voltaram por um curto período nesta segunda-feira, em frente aos portões da universidade, em meio à forte presença policial, antes de os manifestantes se dirigirem ao Museu de Arte Metropolitano (MET), onde acontece o famoso Met Gala, um evento repleto de artistas do cinema e da música.

Diversas pessoas foram detidas, comprovaram jornalistas da AFP.

A direção de Columbia, que vive um dos momentos mais conturbados de sua história recente, anunciou que havia decidido “desistir” da cerimônia de formatura, na qual eram esperados cerca de 15 mil alunos e seus familiares.

No dia 30 de abril, a tropa de choque da polícia entrou pela segunda vez na universidade em menos de uma semana para desalojar cerca de 30 estudantes que tinham ocupado um edifício administrativo, o Hamilton Hall, conhecido por ter abrigado protestos contra a guerra do Vietnã.

Os agentes também desmantelaram um acampamento com dezenas de barracas instaladas nos jardins onde seria realizada a formatura. Apenas uma parte da estrutura havia sido instalada e o silêncio era sepulcral.


A administração, “decidida a oferecer a nossos alunos a celebração que eles merecem e desejam”, anunciou que realizará “eventos escolares mais reduzidos” para os estudantes de suas 19 faculdades em um remoto complexo esportivo no extremo norte de Manhattan.

Uma petição on-line para reverter essa decisão já havia reunido 2.302 assinaturas ao final da tarde de segunda.

Formatura de alunos de Columbia foi cancelada diante dos protestos contra a guerra em Gaza.
Foto: CHARLY TRIBALLEAU / AFP

‘Muito chateados’

“Cada um com quem conversei está incrivelmente chateado” com a decisão da administração de Minouche Shafik, a reitora de Columbia, disse à AFP Ally Woodard, estudante de 24 anos.

A administração “escolheu a opção mais preguiçosa possível”, lamentou esta estudante de ciência política e relações internacionais, que se forma na próxima quarta.

Hoje foi permitido o acesso para um grupo reduzido de jornalistas à instituição, fechada há quase uma semana. Apenas é permitido acesso aos estudantes que moram no interior do campus e ao pessoal docente e essencial da universidade.

Foram retirados cartazes colocados aos pés da escadaria dos jardins, que prometiam “honrar todos os nossos mártires” e mostravam os nomes de centenas de crianças palestinas mortas pelas bombas israelenses, segundo os autores.

‘Geração covid’

Para muitos estudantes americanos que concluíram o Ensino Médio durante a pandemia de covid, esta será a segunda cerimônia do tipo que é cancelada devido a problemas externos.

Para os futuros graduados, a vida acadêmica “começou on-line por causa da covid. Agora, eles assistem às aulas on-line e sequer vão ter uma cerimônia de formatura. É realmente triste”, declarou à AFP Nikolina Lee, estudante de economia em Columbia.

No centro dos protestos está a exigência de que as universidades “desinvistam” em ativos relacionados a Israel e em empresas que se beneficiam da guerra.

Na Universidade de Michigan, uma cerimônia de formatura foi interrompida brevemente no sábado por manifestantes pró-Palestina que usavam o tradicional lenço branco e preto, kufiya, imortalizado pelo finado líder palestino Yasser Arafat e que se transformou no símbolo dos protestos.

Os manifestantes se dirigiram ao palco gritando: “Diretores, vocês não podem se esconder. Vocês estão financiando o genocídio”, segundo o The New York Times.


A luz verde das autoridades universitárias para a entrada da polícia para expulsar os manifestantes, muitos dos quais foram presos e suspensos, suscitou duras críticas entre os professores.

Para a Associação Americana de Professores Universitários, a resposta a “manifestações pacíficas” nos campi tem sido “inaceitável”.

“A livre manifestação e a liberdade de expressão são essenciais” para os objetivos das instituições acadêmicas como “o conhecimento, a conquista da verdade, o desenvolvimento dos estudantes e, em geral, o bem-estar da sociedade”, afirmou a associação na rede social X.

A Associação Histórica Americana (AHA) instou “os administradores a reconhecerem o valor fundamental dos protestos pacíficos nos campi universitários”, em uma declaração emitida nesta segunda e assinada por 17 organizações estudantis.

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