COP25 se arrasta em meio a impasse entre países

Governos não entram em consenso sobre o combate à crise climática. Brasil, EUA, Índia e China são criticados por "falta de ambição"

Foto: UNclimatechange/Flicker/Creative Commons

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A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP25) estava programada para terminar nesta sexta-feira 13, mas um impasse entre os países reunidos em Madri fez com que a reunião de duas semanas se arrastasse para além do prazo oficial.

Após uma longa noite de negociações, representantes dos quase 200 países não conseguiram chegar a um consenso sobre um documento final da cúpula.

Houve divergências, por exemplo, sobre como deve ocorrer o financiamento de medidas climáticas em países mais pobres e sobre quais regras ditarão a cooperação entre países, com profundas divergências entre Estados emissores ricos e nações em desenvolvimento.

“Chegamos muito longe, mas a questão de como desenvolver um mercado internacional de CO2 é muito complicada”, disse à DW a ministra do Meio Ambiente da Alemanha, Svenja Schulze.

A alemã se referia a um dos principais objetivos desta COP25, que era chegar a um quadro regulatório para um sistema de mercado de carbono – sob o qual países que emitiram menos podem vender créditos de CO2 a países mais emissores.

Na manhã deste sábado, a ministra do Meio Ambiente do Chile, Carolina Schmidt, cujo país preside esta conferência da ONU, apresentou um novo rascunho do documento final traçado ao longo da noite. “A solução que propomos é equilibrada como um todo”, declarou ela.


Mas muitos países expressaram oposição, incluindo Brasil – representado na COP25 pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles –, Colômbia, México, Argentina, Uruguai, Arábia Saudita e países-membros da União Europeia (UE).

Após um ano de catástrofes relacionadas ao clima, incluindo tempestades, inundações e incêndios florestais, bem como greves semanais de milhões de jovens, as negociações em Madri deveriam enviar um sinal claro da disposição dos governos em enfrentar a crise climática.

A conferência também visa finalizar um conjunto de medidas para a implementação do Acordo de Paris sobre o clima, de 2015, cuja meta é limitar o aumento da temperatura global a 2 ºC em relação aos níveis da era pré-industrial, esforçando-se, porém, para não passar de 1,5 ºC.

Neste mês, a ONU afirmou que limitar o aquecimento global a 1,5 ºC exigiria uma queda nas emissões globais de carbono de mais de 7% ao ano até 2030. Enquanto isso, cientistas alertam que a janela para impedir que o clima da Terra atinja pontos irreversíveis está se fechando rapidamente.

Contudo, em vez de definir o marco regulatório do Acordo de Paris, que deve entrar em vigor em 2020, países se atropelaram no que foi chamado de retrocesso na questão política fundamental – ou até que ponto cada país está disposto a ir para ajudar a evitar uma catástrofe climática.

“Todas as referências à ciência ficaram mais fracas, todas as referências à melhoria da ambição desapareceram. Parece que preferimos olhar para trás a olhar para o futuro”, denunciou Carlos Fuller, chefe do bloco de negociação da Aliança dos Pequenos Estados Insulares, no plenário da COP25.

Ativistas ambientais fizeram uma série de protestos em Madri durante a cúpula para exigir que os líderes internacionais tomem ações mais ambiciosas contra o aquecimento global.

Entre os principais defensores de metas mais ambiciosas está a União Europeia, que nesta semana lançou o Acordo Verde Europeu com medidas para conter as mudanças climáticas em seus Estados-membros. Neste sábado, Bruxelas alertou que a COP25 precisa enviar um forte sinal de que os países estão prontos para fazer mais para reduzir as emissões.

“Isso é algo que o mundo lá fora espera de nós, e precisamos ouvir o seu chamado”, afirmou a ministra do Meio Ambiente da Finlândia, Krista Mikkon, falando em nome da UE.

Países como Nepal, Suíça, Uruguai e Ilhas Marshall ecoaram a posição da União Europeia a favor de metas climáticas mais ambiciosas. “Não iremos embora sem um apelo claro a todos os países para aumentarem suas ambições”, disse a representante das Ilhas Marshall, Tina Stege.

A Aliança dos Pequenos Estados Insulares, que representa países que devem ser duramente atingidos pelas mudanças climáticas e o consequente aumento do nível do mar, lançou críticas a potências como Austrália, Estados Unidos, Canadá, Rússia, Índia, China e Brasil por “sua falta de ambição que também prejudica a nossa”.

EK/ap/ap/dpa/efe/rtr


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