EUA e Brasil querem barrar governo Maduro na Organização Pan-Americana da Saúde

Ministro da Saúde da Venezuela considerou uma intervenção desastrosa para a política internacional

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Os Estados Unidos, o Brasil e outros 11 países rejeitaram nesta segunda-feira 28 a legitimidade do governo de Nicolás Maduro na Venezuela para participar do Conselho Diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). A entidade ainda não se pronunciou sobre as credenciais dos representantes.

 

Além dos Estados Unidos, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Peru e Paraguai expressaram suas objeções. O questionamento, categoricamente rejeitado por Venezuela e Cuba, foi feito no início do 58º Conselho Diretor da Opas, que acontece esta semana pela primeira vez em formato virtual, devido à pandemia de coronavírus.

“O Comitê de Credenciais está reunido e apresentará seu parecer a este Conselho”, anunciou Fernando Ruiz Gómez, ministro da Saúde da Colômbia, país escolhido para presidir o Conselho Diretor da Opas. A decisão deve ser divulgada nesta terça-feira.

 

“Regime ilegítimo”

 


“Os Estados Unidos não reconhecem os representantes do regime ilegítimo de Maduro e se opõem firmemente à sua participação nesta reunião”, disse a porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Kristen Pisani, que apontou uma crescente deterioração da situação humanitária e de saúde pela qual ela culpou o governo Maduro.

“Acreditamos firmemente que o representante legítimo do povo venezuelano é o presidente interino Juan Guaidó e os membros de sua administração”, acrescentou, a respeito do parlamentar líder da oposição, que Washington considera ser a única autoridade legítima. Por sua vez, a diplomata paraguaia Lorena Patiño leu uma declaração em nome de seu país e mais 11 outras nações, à qual os Estados Unidos depois aderiram.

“Os governos de nossos países querem registrar que o credenciamento e participação dos representantes do regime ilegítimo de Nicolás Maduro não implica e não deve ser interpretado como um reconhecimento tácito da legitimidade de Maduro ou de seus representantes”, disse.

O governo de Maduro não é reconhecido pelo Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA), enquanto cerca de 60 países que reconhecem Guaidó como presidente interino, acrescentou Patiño.

A Venezuela está mergulhada em uma profunda crise política, que foi intensificada desde que Maduro assumiu um segundo mandato em janeiro de 2019, após eleições consideradas fraudulentas pela oposição e parte da comunidade internacional.

Os EUA também atribuem a Maduro o declínio econômico na Venezuela, agravado desde a chegada do presidente ao poder em 2013 e que, segundo a ONU, levou mais de cinco milhões de pessoas a abandonarem o país nos últimos anos.

 

Rejeição de Venezuela e Cuba

 

O ministro da Saúde da Venezuela, Carlos Humberto Alvarado, rejeitou “categoricamente” as intervenções dos representantes dos Estados Unidos e do Paraguai.

“A Venezuela é um país soberano, livre, com um governo eleito democraticamente pelo povo, e Nicolás Maduro é o presidente constitucional inquestionável”, afirmou. “Rejeitamos que um espaço técnico como este encontro seja utilizado para fins particulares e políticos”, enfatizou.

Alvarado pediu à diretora da Opas, Carissa Etienne, que se pronunciasse sobre “esse ultraje” e “que essa intervenção tão desastrosa para a política internacional seja deixada de lado na discussão”.

Cuba, aliada da Venezuela junto com China, Rússia e Irã, também se opôs à demanda dos 13 países. “A Opas é uma organização do sistema das Nações Unidas e a Assembleia Geral da ONU reconhece os representantes do governo do presidente Nicolás Maduro como legítimos representantes do governo venezuelano”, alegou o ministro da Saúde cubano, Miguel Angel Portal.

“A Venezuela tem um governo único e constitucional, o do presidente Nicolás Maduro”, adicionou, destacando o “firme apoio” de Havana a Caracas.


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