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Ex-presidente de Honduras é condenado a 45 anos de prisão nos EUA por tráfico de drogas

O juiz Kevin Castel determinou ainda que o ex-presidente deve pagar uma multa de 8 milhões de dólares e cumprir 5 anos de liberdade vigiada após deixar a prisão

Juan Orlando Hernández em discurso em junho de 2021. Foto: Orlando Sierra/AFP
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A Justiça dos Estados Unidos condenou nesta quarta-feira 26 o ex-presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández, a 45 anos de prisão, depois de ter sido considerado culpado de tráfico de drogas e armas em 8 de março.

Em uma audiência em Nova York, o juiz Kevin Castel também determinou que Hernández, de 55 anos, que foi presidente por dois mandatos consecutivos de 2014 a 2022, deve pagar uma multa de 8 milhões de dólares (R$ 44 milhões) e cumprir 5 anos de liberdade vigiada após deixar a prisão.

A pena é um pouco superior ao mínimo estipulado – 40 anos pelas três imputações – mas inferior à prisão perpétua que pedia a Promotoria.

“O papel de Juan Orlando Hernández foi usar seu poder político como presidente do Congresso e como presidente de Honduras para minimizar o risco dos narcotraficantes em troca de dinheiro”, afirmou o juiz ao ler a sentença.

“Ninguém está acima da lei, tampouco os presidentes”, afirmou o promotor Jacob Gutwilling.

“Sou inocente e fui acusado de forma injusta e indevida”, disse o ex-presidente, que entrou na sala de audiências usando uma bengala devido a um acidente jogando futebol, conforme esclareceu seu advogado, Renato Stabile.

Hernández ouviu de pé a sentença do juiz Castel, que foi bastante duro em sua argumentação, em uma sala abarrotada de hondurenhos que se aproximaram do tribunal no distrito sul de Manhattan para assistir a este dia histórico.

O advogado de Hernández, Renato Stabile, anunciou ao término da audência que vai recorrer da sentença para “anular a condenação” e “celebrar um novo julgamento”, como tem solicitado, sem sucesso, até agora.

“Gosto amargo na boca”

Para a ativista hondurenha de direitos humanos Lida Perdomo, a sentença deixa “um gosto amargo na boca”, pois considera que “não é suficiente” para este político “perigoso”, cujas “estruturas criminais, tanto no âmbito do Poder Judiciário, como da polícia e os militares ainda estão bem vivas” no país. Ela esperava que Hernández fosse receber ao menos duas penas de prisão perpétua.

Por sua vez, o ex-presidente atacou a “justiça seletiva dos promotores”, que basearam a acusação “em depoimentos” de traficantes de drogas interessados em obter uma troca de benefícios por sua situação carcerária e que não apresentaram “nenhuma evidência”.

“Apelo ao bom senso: eles (os traficantes) que testemunharam no julgamento serão libertados e eu serei preso para o resto da vida”, disse Hernández, salientando que tal situação prejudica “a credibilidade do sistema judicial” americano.

“400 toneladas de cocaína”

Fiel colaborador do governo do republicano Donald Trump (2017-2021), Hernández chegou a se vangloriar dos elogios de Washington pelo trabalho de seu governo na luta contra o narcotráfico.

No entanto, o escritório do promotor em Nova York o acusou de criar um “narcoestado” e transformar Honduras em uma “superestrada” pela qual passava grande parte da droga vinda da Colômbia.

Entre 2004 e 2022 – desde seus cargos como deputado, presidente do Congresso e depois presidente da República – Hernández participou e protegeu uma rede que enviou mais de 400 toneladas de cocaína para os Estados Unidos, com valor de cerca de 10 bilhões de dólares (R$ 55 bilhões na cotação atual) no mercado local, destacou Gutwilling.

Em troca, teria recebido milhões de dólares dos cartéis de drogas, incluindo do narcotraficante mexicano Joaquín “Chapo” Guzmán, condenado à prisão perpétua nos Estados Unidos.

Extraditado em abril de 2022 para os Estados Unidos, três meses após entregar a presidência para sua sucessora, a esquerdista Xiomara Castro, Hernández teria sido o autor da frase famosa: “Vamos enfiar droga nos gringos debaixo de seus narizes e eles nem vão perceber”, segundo disse uma testemunha do julgamento.

Outros acusados no mesmo processo, incluindo seu irmão Tony Hernández e o colaborador próximo Geovany Fuentes, já foram condenados à prisão perpétua.

Também no mesmo processo, o ex-chefe da polícia hondurenha Juan Carlos Bonilla, conhecido como “El Tigre”, e o policial Mauricio Hernández Pineda se declararam culpados de narcotráfico, evitando julgamento junto com o ex-presidente.

Desde 2014, cerca de cinquenta hondurenhos acusados de narcotráfico foram extraditados ou se entregaram voluntariamente à justiça dos Estados Unidos.

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