A repercussão da guerra entre Israel e Hamas tem um front de desinformação bem estabelecido nas redes sociais, com a disseminação da agenda “antiglobalista” ganhando tração em diferentes plataformas. Esse foi o cenário mapeado em bolhas da direita pelo Núcleo de Integridade da Informação da agência Nova entre outubro e novembro.
Expoentes da extrema-direita já recorriam a essa teoria para alegar que Jair Bolsonaro (PL) seria alvo de uma suposta conspiração internacional da esquerda durante seu governo. Com a saída do ex-capitão da Presidência, o discurso foi mantido – agora, para alegar que Lula (PT) desejaria vender as riquezas nacionais a países europeus, por exemplo.
Essas versões ganharam tração nas redes sociais com o conflito no Oriente Médio, segundo o levantamento. As versões apontam Israel ora como agente do globalismo, ora como vítima de governos ditos globalistas.
Desde o ataque do Hamas em 7 de outubro, o levantamento identificou diversas versões sobre os “motivos reais por trás do plano globalista” que fomentou a guerra, além de países supostamente interessados na troca de hostilidades na Faixa de Gaza.
“O globalismo é uma bóia salvadora que ancora a retórica ‘anti’ (re)combinando temáticas complexas (como moeda única, renda básica universal e a pauta ambiental) com versões típicas da lógica terraplanista (como a de que haveria uma ação coordenada para alterar a alimentação das pessoas com intuito de aumentar a dependência a ‘governos globalistas’)”, diz o estudo.
Entre os principais disseminadores desta agenda estão bolsonaristas conhecidos, como o empresário Leandro Ruschel (que chegou a ser citado no Inquérito das Fake News no Supremo Tribunal Federal) e o ex-candidato a deputado federal pelo PTB Ed Raposo.
Veja as principais “teorias” sobre a guerra na bolha direitista:
- “Países globalistas alinham-se ao Hamas”: O movimento palestino receberia apoio de globalistas na luta pela destruição de Israel, porque o país seria o “guardião da cultura judaico-cristã”. Assim, os perfis bolsonaristas acusam a “grande mídia globalista” e a esquerda de defender o Hamas;
- “Israel é um Estado globalista”: Israel é retratado como nação “globalista” por ter sido criado pela ONU – instituição “dominada pelo globalismo” e responsável por introduzir a “agenda da Nova Ordem Mundial”, como a descriminalização do aborto e das drogas. De acordo com esta tese, o país teria facilitado os ataques do Hamas para justificar a destruição da Palestina;
- “Globalistas incentivam o conflito dos dois lados”: Essa versão diz que os globalistas teriam alimentado a guerra, com o objetivo de “criar o caos para depois oferecer a solução” (neste caso, a “criação de um único sistema de governo que domine o mundo” – ou seja, a Nova Ordem Mundial).
O Núcleo de Integridade da Informação da Nova fez a pesquisa a partir do acompanhamento sistemático das redes sociais e com base na coleta de postagens de X, Facebook, Youtube e Instagram. A reunião de menções foi realizada diariamente e limitada a cerca de 119 mil posts por dia.
A pesquisa tem 95% de confiança e 5 pontos de margem de erro. Cerca de 1.050 menções foram manualmente analisadas por dia, com posts entre 7 de outubro e 7 de novembro. O alcance é estimado com base no número de seguidores dos publicadores.
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