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Governo da Colômbia e dissidência das Farc iniciam diálogo de paz na Venezuela

As partes expressaram que nesta primeira fase serão definidos os protocolos de negociação e anunciadas as primeiras decisões

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro. Foto: Daniel Munoz/AFP
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O governo da Colômbia e a ‘Segunda Marquetalia’, uma das dissidências das Farc, iniciaram nesta segunda-feira 24 uma mesa de negociações de paz em Caracas, a terceira promovida pelo governo de esquerda de Gustavo Petro.

Sete delegados do governo e outros sete da organização insurgente comandada pelo ex-número dois da extinta guerrilha, conhecido como Iván Marquez, participam deste primeiro processo, que se estende até sábado.

“Hoje queremos manifestar que a Segunda Marquetalia Exército Bolivariano, sob meu comando e sua liderança coletiva, tem toda a disposição de contribuir à conquista comum da paz para a Colômbia”, afirmou Márquez, presente no encontro.

As negociações geram resistência uma vez que são feitas com detratores do acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia em 2016, quando este líder era o segundo mais importante da organização e negociador-chefe.

As partes expressaram que nesta primeira fase serão definidos os protocolos de negociação e anunciadas as primeiras decisões.

Márquez, cujo nome verdadeiro é Luciano Marín, insistiu em Caracas que seu retorno à revolta armada está relacionado ao “descumprimento e à traição do Estado ao Acordo de Paz de Havana”.

“Não podemos começar do zero”, respondeu o chefe da delegação governamental, Armando Noboa, apesar de considerar que houve uma “implementação indevida” do acordo. “Seria um erro histórico, especialmente para os signatários do 16º (…). Esse acordo é um mandato vinculante, vigente”, acrescentou.

O líder guerrilheiro permaneceu no processo por alguns anos após a assinatura, mas desertou e em 2019 reapareceu em um vídeo no qual anunciou uma nova revolução armada.

Cessar-fogo?

Petro, que também negocia com o Exército de Libertação Nacional (ELN), iniciou as negociações em outubro passado com o Estado-Maior Central (EMC), estagnadas por divisões internas dentro desse bloco de dissidentes.

Antes do início do diálogo, o comandante das Forças Militares da Colômbia, general Helder Giraldo, antecipou “aproximações” para alcançar um cessar-fogo bilateral.

Mas Otty Patiño, o alto comissário da Colômbia para a paz, inicialmente descartou esta possibilidade e disse que este processo envolve, em princípio, “desescalar o conflito”. “O cessar-fogo proposto tem como base um elemento técnico que nunca será perfeito”.

A ‘Segunda Marquetalia’ tem quase 1.660 combatentes, segundo cálculos da inteligência militar. Analistas consideram que é uma guerrilha frágil em comparação com as dissidências do Estado Maior Central, liderado pelo homem conhecido pelo pseudônimo Iván Mordisco, que não assinou a paz em 2016, e com o Exército de Libertação Nacional.

O governo Petro conversa com o EMC desde outubro do ano passado, antes da divisão do grupo em duas alas em abril. A parte dos guerrilheiros sob o comando de Mordisco abandonou o processo, enquanto metade permanece nas conversas.

O diálogo com o ELN atravessa, por sua vez, uma crise na qual ainda não possui soluções sólidas.

Futuro político

Em 2023, a imprensa local especulou sobre a morte de Márquez na Venezuela após um atentado. Mas em maio, apareceu em um vídeo manifestando seu apoio a Petro.

Márquez é “um dos poucos chefes da velha guarda que restam, fortes bases ideológicas”, afirmou Francisco Javier Daza, pesquisador da Fundação Paz e Reconciliação. E isso “tem um peso e pode contribuir para que a negociação seja muito mais rápida, muito mais eficaz” do que as que o governo abriu com o ELN e o EMC.

Walter Mendoza, chefe da delegação insurgente, anunciou que a Segunda Marquetalia aspira “à possibilidade de continuar a fazer política sem armas”.

“O cumprimento do que foi acordado será a condição”, concluiu.

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