Em debate tenso, Trump não promete aceitar o resultado da eleição; Biden patina

O ex-presidente escolheu a imigração como coringa para diversos temas. O atual chefe da Casa Branca minimizou o peso da idade

Foto: Andrew Caballero-Reynolds/AFP

Apoie Siga-nos no

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o ex-presidente Donald Trump fizeram nesta quinta-feira 27 o primeiro debate de 2024, realizado pela CNN. O evento aconteceu na Geórgia, um dos estados mais disputados das eleições de novembro.

O embate direto entre o democrata, de 81 anos, e o republicano, de 78, aconteceu em um cenário de equilíbrio na corrida à Casa Branca. Segundo uma pesquisa publicada na quarta 26 pela Universidade de Quinnipiac, Trump tem 49% das intenções de voto, contra 45% de Biden. Outro levantamento, divulgado no domingo 23 pelo canal Fox, mostra o democrata à frente: 50% a 48%.

Sem checagem em tempo real, o debate favoreceu a postura de Trump ao divulgar notícias falsas. Em dado momento, ele acusou os democratas de desejarem matar crianças após o nascimento, em referência à defesa de Biden sobre o direito ao aborto.

O ex-presidente também atacou os imigrantes com acusações vazias, mesmo quando as perguntas tratavam de outros assuntos. Foi, notavelmente, uma tática: recorreu a temas sensíveis como imigração, guerras e aborto para encurralar Biden, vacilante em diversos trechos.

Confirmou-se, assim, o temor de aliados do presidente sobre o risco de ele patinar na fala e no raciocínio em situações de tensão.

Principal esperança da extrema-direita global, Trump não se comprometeu a aceitar o resultado da eleição, indicando a possibilidade de repetir sua conduta de 2020, que serviu de combustível para a invasão ao Capitólio em 6 de Janeiro de 2021.


Se a eleição for justa e livre. E quero mais que todos”, respondeu, diante do primeiro questionamento sobre o tema, já na reta final do debate. Na sequência, instado novamente a prometer o respeito ao desfecho da disputa, dobrou a aposta: “Se for uma eleição justa, legal e boa, com certeza [aceitarei]”. Ele também voltou a alegar, sem provas, ter havido “fraude” há quatro anos.

Um tema relevante da campanha deste ano envolve a idade e a aptidão física dos candidatos. Por óbvio, ambos tentaram minimizar o assunto.

“Em metade da minha carreira, fui criticado por ser o mais jovem na política. Fui o segundo mais jovem a ser eleito para o Senado e agora sou o mais velho [na Presidência]”, disse Biden. “Esse cara é três anos mais novo. Olhem o que fiz, olhem como reverti a terrível situação que ele deixou.”

Trump, por sua vez, disse ter obtido ótimos resultados em testes cognitivos e desafiou o oponente a segui-lo. “Ele nem conseguiria passar pelas cinco primeiras questões. Passo por exames físicos todos os anos”, alegou. “Estou em ótima forma, uma forma tão boa quanto aquela em que estava 25, 30 anos atrás – provavelmente até um pouco mais leve.”

Confira outros temas de destaque:

Aborto: Trump defendeu a decisão tomada em 2022 pela Suprema Corte de anular o direito fundamental à interrupção da gravidez no país. A mudança de posição permitiu que os estados decidam livremente sobre o tema. Biden criticou o fato de seu antecessor ter indicado três juízes ultraconservadores para o tribunal.

“A ideia de que os fundadores queriam que fossem os políticos a tomar as decisões sobre a saúde da mulher é ridícula”, disse Biden. “Nenhum político deveria tomar essa decisão. Um médico deveria tomar essas decisões. É assim que deve ser.”

Economia:  Questionado sobre eleitores que acreditam viver pior sob sua administração do que durante o governo Trump, Biden afirmou ter recebido uma situação “caótica” na economia. O ex-presidente, por sua vez, disse que “os únicos empregos que ele criou foram para imigrantes ilegais”.

“Não havia inflação quando me tornei presidente. Você sabe por quê? A economia estava com 15% de desemprego, ele dizimou a economia, dizimou totalmente. É por isso que não havia inflação na época”, devolveu o democrata. “Não havia empregos. Fornecemos milhões de empregos.”

Imigração: Trump repetiu o tempo todo alegações contra imigrantes e os acusou de estuprarem e matarem mulheres, sem apresentar quaisquer dados para embasar as afirmações.

Biden o acusou de exagerar e mentir. Segundo o presidente, dizer que os Estados Unidos abrem os braços aos migrantes que entram ilegalmente no país “simplesmente não é verdade”. E completou: “Não há dados que sustentem o que ele disse. Mais uma vez, ele está exagerando. Ele está mentindo”.

Guerra na Ucrânia: desconfortável, Trump afirmou que os termos apresentados pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, não são aceitáveis. Alegou, porém, que se os Estados Unidos tivessem um “presidente respeitado por Putin”, a invasão da Ucrânia não teria ocorrido.


“Resolverei a guerra entre Putin e Zelensky como presidente eleito antes de assumir o cargo em 20 de janeiro”, disparou o republicano.

Em dado momento, Biden confundiu os nomes de Trump e Putin.

Democracia:  Trump tentou minimizar a violenta ação de seus apoiadores contra o Capitólio em 6 de dezembro de 2021 e disse que o país era melhor à época. Biden afirmou que o adversário “incentivou” os ataques daquele ano.

Gaza: Trump fugiu de uma questão sobre reconhecer o Estado da Palestina e, em vez disso, declarou que os países da Otan, a aliança militar ocidental, “passaram a gastar bilhões de dólares” após suas declarações sobre financiamento.

Biden, por seu turno, defendeu a conduta de seu governo diante da guerra em Gaza. “Todos do Conselho de Segurança da ONU e do G7 endossaram meu plano para resolver conflito no Oriente Médio.”

Apesar da gravidade, a situação no enclave palestino não mereceu grande destaque.

Trump condenado: Com 44 minutos de debate, Biden mencionou a condenação criminal de Trump em um caso de suborno a uma atriz pornô. “A única pessoa neste palco que é um condenado é o homem para quem estou olhando agora”, disse o presidente.

Donald Trump voltou a alegar ser algo de perseguição por parte dos democratas e da Justiça.

Meio ambiente: Biden afirmou que seu adversário nada fez para combater a mudança climática e defendeu as ações da atual gestão. Trump exaltou sua decisão de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris, ao qual se referiu como um roubo. Sob Biden, o país retomou Acordo.

***

O debate teve dois moderadores, os jornalistas da CNN Jake Tapper e Dana Bash, e segue normas rigorosas.

Em uma tentativa de evitar a confusão do primeiro debate de 2020, durante o qual Biden e Trump passaram uma hora e meia gritando e interrompendo um ao outro, a emissora decidiu desligar o microfone de cada candidato quando se esgotar o tempo de resposta estipulado.


Além disso, o programa não teve plateia nem teleprompter, o dispositivo que exibe textos a apresentadores de televisão e políticos em seus discursos.

Assista ao debate na íntegra (em inglês):

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.