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Israel ataca o sul de Gaza e Netanyahu diz que seu país ‘luta contra o genocídio’

Em Haia, África do Sul acusa Israel de violar a Convenção para a Prevenção do Genocídio com seus ataques ao enclave

Exército de Israel. Foto: JACK GUEZ / AFP
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Aviões israelenses bombardearam, nesta quinta-feira 11, o sul da Faixa de Gaza, no final da viagem regional do chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, que tenta impedir a propagação do conflito entre Israel e o Hamas.

A última etapa da viagem de Blinken, no Egito, coincidiu com o início das audiências na Corte Internacional de Justiça (CIJ), onde a África do Sul acusou Israel de violar a Convenção para a Prevenção do Genocídio com sua campanha militar em Gaza.

“Nenhum ataque armado ao território de um Estado, por mais grave que seja, justifica a violação da Convenção”, afirmou o ministro da Justiça sul-africano, Ronald Lamola, em Haia, perante a mais alta instância judicial da ONU. “A resposta de Israel ao ataque de 7 de outubro ultrapassou esta linha e dá origem a violações da convenção”, acrescentou ao apresentar a denúncia, que conta com o apoio de países como Brasil e Colômbia.

Israel acusou a África do Sul de agir como “o braço jurídico da organização terrorista Hamas” e seu primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, destacou que “é [o Estado de Israel] que luta contra o genocídio.

No Cairo, Blinken se reuniu com o presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sissi, cujo país desempenhou um papel fundamental no acordo sobre uma trégua de uma semana no final de novembro na guerra entre Israel e o movimento islamista palestino.

Apesar dos receios de uma conflagração na região, onde o Hamas tem inúmeros aliados no Líbano, na Síria, no Iraque e no Iêmen, Blinken descartou uma propagação da guerra.

“Não creio que o conflito esteja escalando”, porque ninguém quer que isso aconteça, disse o secretário de Estado, antes de voltar ao seu país.

“Israel não quer isso. O Líbano não quer. Acho que, na verdade, o Hezbollah também não”, disse ele, referindo-se ao movimento xiita aliado ao Hamas, que está em confronto com as forças israelenses na fronteira com o Líbano.

“Acima da lei”

Na Faixa de Gaza, a aviação israelense multiplicou seus bombardeios contra Khan Yunis, a principal cidade do sul do território e epicentro dos combates nas últimas semanas, indicaram várias testemunhas.

Em Rafah, no extremo-sul da Faixa, onde centenas de milhares de pessoas deslocadas estão amontoadas, os palestinos presentes em um funeral estavam esperançosos de que o tribunal da ONU aceitaria a denúncia sul-africana.

“Israel considera-se acima da lei. Pedimos (…) aos juízes internacionais que julguem Israel e seu governo”, disse um dos presentes no funeral, Hisham al Kullah, com um bebê morto nos braços.

Outro participante, Mohamad al Arjan, disse esperar que “o tribunal pare a guerra”.

A guerra eclodiu em 7 de outubro com o ataque sem precedentes de milicianos islamistas em solo israelense, que deixou cerca de 1.140 mortos, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada no balanço das autoridades israelenses. Os milicianos também sequestraram cerca de 250 reféns, 132 dos quais ainda estão mantidos em cativeiro em Gaza.

Israel prometeu “aniquilar” o movimento palestino, considerado um grupo terrorista por Israel, União Europeia e Estados Unidos, e lançou uma operação militar contra Gaza que causou pelo menos 23.469 mortes, a maioria mulheres e menores, informou o Ministério da Saúde do Hamas nesta quinta-feira.

O Hamas, no poder em Gaza desde 2007, havia indicado pouco antes que os ataques israelenses da noite passada deixaram 62 mortos em toda a Faixa.

O Exército israelense informou que “combates subterrâneos” permitiram descobrir mais de 300 túneis em Khan Yunis e que “reféns israelenses estiveram dentro” de uma grande cavidade.

“Os combates acontecem no subsolo, na superfície, em um território muito, muito complexo, contra um inimigo que preparou sua defesa durante um período muito longo e de uma forma muito organizada”, declarou o chefe do Estado-Maior israelense, Herzi Halevi.

Obstáculos “quase intransponíveis”

Organizações internacionais alertam para uma catástrofe sanitária em Gaza, onde 85% da população foi deslocada e a ajuda humanitária chega a conta-gotas.

A distribuição de ajuda enfrenta obstáculos “quase intransponíveis”, disse o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus.

No norte de Israel, as trocas de disparos com o movimento libanês Hezbollah têm sido quase diárias desde o início da guerra e se intensificaram depois de um ataque atribuído a Israel ter matado o número dois do Hamas em Beirute, em 2 de janeiro.

As tensões também aumentam no Mar Vermelho, onde as forças britânicas e americanas derrubaram nesta semana 18 drones e três mísseis lançados pelos rebeldes huthis do Iêmen em solidariedade a Gaza.

Os ataques huthis reduziram o trânsito de navios porta-contêineres em 70% nesta importante rota comercial marítima, disse à AFP Ami Daniel, fundador e líder do Windward, um grupo consultivo de transporte marítimo.

Durante a sua viagem, Blinken se reuniu com líderes israelenses e com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas.

A Autoridade Palestina perdeu o controle da Faixa de Gaza para o Hamas em 2007 e agora exerce apenas um poder limitado na Cisjordânia ocupada.

Os Estados Unidos querem ver reformas nesta entidade para que possa assumir um papel de liderança no futuro de Gaza após a guerra.

Abbas e Blinken falaram na quarta-feira “sobre a importância de reformar a Autoridade Palestina para que esta possa efetivamente assumir a responsabilidade de Gaza”, afirmou o diplomata americano, que reiterou seu apoio à criação de um Estado palestino.

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