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Israel é acusado de usar fósforo branco em ataques no sul do Líbano

O fósforo branco, uma substância que se inflama em contato com o oxigênio, pode causar incêndios, queimaduras graves, danos respiratórios, falência de órgãos e levar a pessoa à morte

Uma foto tirada do norte de Israel, ao longo da fronteira com o sul do Líbano, em 4 de março de 2024, mostra fumaça subindo após o bombardeio israelense na vila libanesa de Markaba. Foto: Jalaa MAREY / AFP
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Mohammad Hammud estava em casa com sua esposa em uma aldeia na fronteira sul do Líbano quando Israel bombardeou a área no início do ano. Em seguida, percebeu que aquele era um ataque diferente.

“Começou um incêndio em frente à casa, havia um cheiro estranho (…) era difícil respirar. Quando a equipe de resgate chegou nos disse que era fósforo e nos levou para o hospital”, disse ele à AFP por telefone, de sua casa em Hula, perto da fronteira com Israel.

O Exército israelense e o movimento libanês pró-Irã, Hezbollah, travam confrontos diários desde o ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro.

O Líbano acusa Israel de usar os controversos projéteis de fósforo branco em ataques que as autoridades dizem prejudicar civis e o meio ambiente.

O fósforo branco, uma substância que se inflama em contato com o oxigênio, pode ser usado para criar cortinas de fumaça ou iluminar campos de batalha. Mas também é utilizado como arma incendiária e pode causar incêndios, queimaduras graves, danos respiratórios, falência de órgãos, e levar a pessoa à morte.

“O uso extensivo de fósforo branco por Israel no sul do Líbano coloca os civis em sério risco e contribui para o deslocamento de civis”, declarou a Human Rights Watch em relatório divulgado nesta quarta-feira (5).

A organização disse ter “verificado o uso de munições de fósforo branco pelas forças israelenses em pelo menos 17 municípios do sul desde outubro”, incluindo cinco casos em áreas residenciais.

Fotos da AFP tiradas entre outubro e abril mostram consistentes colunas de fumaça com fósforo branco.

O Exército israelense afirmou no início do conflito que seus procedimentos exigem que as munições de fósforo branco “não sejam utilizadas em áreas densamente povoadas, com certas exceções” e que esta medida é cumprida e “vai além do que é exigido pelo direito internacional”.

Colunas de fumaça saem do local de um ataque aéreo israelense na vila de Aita al Shaab, no sul do Líbano, perto da fronteira com Israel, em 4 de junho de 2024. Foto: Kawnat HAJU / AFP

“Asfixia”

A Agência Nacional de Notícias do Líbano tem relatado frequentes bombardeios israelenses com fósforo branco, por vezes causando incêndios. Acrescentou ainda que no dia 28 de janeiro, “projéteis de fósforo caíram entre as casas” em Hula depois que a “artilharia inimiga” atacou a cidade.

Hammud contou que naquele dia, ele e sua esposa foram internados em um hospital em Mais al Jabal, onde precisaram receber oxigênio.

A unidade médica relatou que quatro civis foram internados sob cuidados intensivos por “asfixia e grave dificuldade respiratória devido ao fósforo branco”.

O Ministério da Saúde libanês registrou 178 pessoas afetadas pela “exposição química devido ao fósforo branco” desde outubro.

Soldados da Força Interina da ONU no Líbano também detectaram esta substância em suas instalações, segundo um funcionário da organização sob condição de anonimato.

Entre 10 e 16 de outubro de 2023, a Anistia Internacional já havia reportado “evidências de utilização ilegal de fósforo branco por Israel” no sul do Líbano.

Neste mesmo mês, Beirute apresentou uma queixa à ONU denunciando que o uso desta substância por Israel “põe em perigo a vida de civis inocentes e causa degradação ambiental generalizada”.

Em dezembro daquele ano, os Estados Unidos também expressaram preocupação sobre a utilização do fósforo branco que havia sido fornecido por Washington.

Os confrontos na fronteira deixaram mais de 450 mortos no Líbano, segundo um relatório da AFP, a maioria combatentes e 88 civis.

Israel afirma, por sua vez, que 14 soldados e 11 civis foram mortos em seu território.

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