Mundo
Itamaraty pede desculpa a embaixadores após abordagem policial violenta a filhos no Rio
Representantes diplomáticos de Burkina Faso, Canadá e Gabão receberam a promessa de que o governo do Rio será pressionado a fazer uma investigação rigorosa
![](https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2019/07/Itamaraty-Reprodução-Internet.png)
O Ministério das Relações Exteriores apresentou um pedido formal de desculpas aos embaixadores de Burkina Faso, Canadá e Gabão, cujos filhos sofreram uma abordagem violenta da Polícia Militar do Rio de Janeiro nesta semana.
Os embaixadores de Burkina Faso e do Gabão foram recebidos nesta sexta-feira 5 no Palácio do Itamaraty. O representante diplomático do Canadá não compareceu ao encontro, mas receberá a solicitação formal de desculpas.
“Na reunião, foi entregue em mãos dos embaixadores estrangeiros nota verbal com um pedido formal de desculpas pelo lado brasileiro, e o anúncio de que o Ministério de Relações Exteriores acionará o governo do estado do Rio de Janeiro, solicitando apuração rigorosa e responsabilização adequada dos policiais envolvidos na abordagem”, informou o Itamaraty.
O caso
O episódio aconteceu na última terça-feira 3 e foi inicialmente divulgado pelo jornalista Guga Noblat. Além dos filhos de embaixadores, o grupo de jovens abordados pela PM do Rio tem dois brasileiros de pele clara. Todos com idades entre 13 e 14 anos.
Imagens de câmeras de segurança mostraram o momento em que uma viatura policial se aproxima dos adolescentes e os agentes descem, com armas em punho, para iniciar a abordagem. Os meninos foram levados para dentro da área cercada do prédio onde entravam.
Policiais desceram de viatura com armas em punho e abordaram os jovens – Imagem: Câmera de segurança
Segundo a mãe de um dos jovens brasileiros envolvidos, a abordagem violenta ficou restrita aos meninos estrangeiros negros. Ela disse que os garotos foram obrigados a tirar os casacos e mostrar que não carregavam algo próximo da região genital.
Ainda de acordo com o relato, os meninos brasileiros, poupados da violência, disseram aos policiais que se tratavam de filhos de diplomatas estrangeiros e que não falavam português. Os policiais teriam orientado os meninos a não andarem na rua, pois poderiam sofrer nova abordagem.
Em entrevista ao G1, a embaixatriz do Gabão no Brasil disse que espera ação da Justiça brasileira depois do episódio. “Como que você vai apontar armas para a cabeça de meninos de 13 anos, como que é isso?”
Em nota, a Secretaria de Estado de Polícia Militar do Rio afirmou que as imagens de câmeras corporais dos uniformes dos agentes serão analisadas para verificar eventuais excessos. A corporação disse ainda que os cursos de formação oferecidos aos agentes dão “prioridade absoluta” a disciplinas como Direitos Humanos, Ética e Direito Constitucional.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.