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Nicolas Sarkozy é detido para interrogatório na França

Em situação inédita, Polícia Judicial retém o ex-presidente por no mínimo 24 horas para investigar possível tráfico de influência

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Pela primeira vez na história da França, o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy foi detido para interrogatório nesta terça-feira, 1º, por conta de uma investigação por suspeita de tráfico de influência.

Os investigadores da brigada anticorrupção da Polícia Judicial poderão interrogar o ex-presidente conservador (2007-2012) durante 24 horas, prazo que pode ser ampliado. Ao final, Sarkozy pode ser liberado sem acusações ou transferido para um tribunal de instrução para que um processo seja iniciado.

Sarkozy chegou à sede da Polícia Judicial (DCPJ), em Nanterre, subúrbio de Paris, às 8h (3h de Brasília). No local, estão detidos desde segunda, 30, seu advogado, Thierry Herzog, e dois altos magistrados da Procuradoria da Corte de Cassação, Gilbert Azibert e Patrick Sassoust.

Os investigadores querem saber se Sarkozy tentou obter, com a ajuda de seu advogado, informações de um magistrado prometendo em troca um cargo de prestígio.

Além disso, como parte de uma investigação iniciada em 26 de fevereiro, é preciso averiguar se Sarkozy foi informado ilegalmente de que a justiça havia autorizado a escuta de suas conversas por telefone. A decisão de grampear seus telefones havia sido tomada em setembro do ano passado pelo juiz que investiga as acusações de financiamento de sua campanha eleitoral em 2007 pelo líder líbio Muammar Kadhafi.

Sarkozy e, antes dele, o ex-presidente Jacques Chirac, foram indiciados pela justiça, mas nunca colocados em detenção preventiva para interrogatório.

A prisão preventiva para interrogatório ocorre no momento em que aumentam na França os rumores sobre sua vontade de voltar à política e tentar recuperar a liderança do partido conservador UMP. Atualmente, Sarcozy é alvo de seis processos judiciais.

Um retorno político complicado

Sarkozy, de 59 anos, foi derrotado nas eleições de 2012 pelo socialista François Hollande. A investigação em andamento pode complicar seriamente qualquer tentativa de se candidatar às eleições de 2017. Rumores de que o ex-presidente pretende voltar à vida política são cada vez maiores.

O objetivo de Sarkozy seria assumir a liderança de seu partido, a União por um Movimento Popular (UMP, oposição de direita), mergulhado em uma crise sem precedentes devido a um escândalo de notas frias e enfraquecido diante do avanço da extrema direita nas últimas eleições europeias.

O assunto veio à tona no segundo trimestre de 2013, quando várias pessoas ligadas a Sarkozy tiveram seus telefones grampeados como parte da investigação sobre os fundos líbios: os ex-ministros Claude Guéant e Brice Hortefeux, assim como Michel Gaudin, ex-chefe da Polícia Nacional e ex-prefeito da Polícia de Paris.

Gaudin, que após a derrota eleitoral de Sarkozy em 2012 foi nomeado diretor de gabinete, teve várias conversas por telefone que interessam à polícia. Aparentemente, ele buscou em vão obter informações do chefe dos serviços de inteligência interna, Patrick Calvar, sobre o avanço da investigação líbia.

Os juízes tomaram então a decisão, sem precedentes na França, de colocar o ex-presidente sob escuta, principalmente o telefone que utilizava com o pseudônimo de “Paul Bismuth” para falar com Herzog. As conversas entre eles suscitam suspeitas de que haviam tentado de obter informações de Gilbert Azibert.

Além dos casos do financiamento líbio e do tráfico de influência, a justiça francesa realiza outras investigações que podem representar mais obstáculos no caminho do retorno de Sarkozy à política. Seu nome é citado em seis casos.

Na semana passada, a Procuradoria de Paris encarregou juízes financeiros de uma investigação por falsificação, abuso de confiança e tentativa de fraude, dessa vez pelo financiamento da campanha de Sarkozy para a eleição presidencial de 2012.

Há suspeitas de que os atos de campanha de Sarkozy tenham sido financiados, em grande parte, pela UMP com o objetivo de esconder que o candidato superava o limite máximo de gastos autorizado legalmente. A polícia investiga também a frequência de contratos assinados entre o palácio presidencial e nove institutos de pesquisa durante a presidência de Sarkozy.

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