Novos protestos são convocados no Irã para denunciar a repressão

Ao menos 108 vítimas fatais já foram registradas durante os protestos desencadeados pela morte da jovem Mahsa Amini, em 16 de setembro

Foto: AFP

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Os iranianos são novamente chamados a sair às ruas nesta quarta-feira (12) para denunciar a sangrenta repressão aos protestos desencadeados há quase um mês pela morte de Mahsa Amini, que já fez ao menos 108 vítimas fatais, segundo uma ONG.

“Seja a voz de Sanandaj”, diz um folheto distribuído por ativistas e postado nas redes sociais.

Esta cidade, capital do Curdistão, província do noroeste do Irã de onde veio Mahsa Amini, tem sido palco de grandes protestos que foram severamente reprimidos, segundo ONGs que acusam as autoridades de terem bombardeado certos bairros.

Apesar das centenas de prisões e uma repressão mortal, o movimento de protesto, o maior no Irã desde 2019 contra o aumento do preço da gasolina, não parece perder força.

Foi desencadeado pela morte, em 16 de setembro, de Mahsa Amini, uma curda iraniana de 22 anos que faleceu três dias depois de ser presa pela polícia da moral em Teerã por supostamente violar o rígido código de vestimenta da República Islâmica.

Nesta quarta-feira, ativistas convocaram novas mobilizações “em solidariedade ao povo de Sanandaj”.


“A comunidade internacional deve evitar novos assassinatos no Curdistão dando uma resposta imediata”, lançou Mahmood Amiry-Moghaddam, diretor da ONG Iran Human Rights (IHR), alertando contra “uma iminente repressão sangrenta” nesta província.

De acordo com o IHR, com sede na Noruega, pelo menos 108 pessoas foram mortas no Irã na repressão aos protestos, durante os quais os manifestantes gritam “Mulher, vida, liberdade” e “Morte ao ditador”.

Segundo a ONG, 14 pessoas foram mortas no Curdistão, mas esta avaliação não inclui as vítimas da “repressão sangrenta” dos últimos três dias, durante os quais ocorreram “grandes manifestações” em Sanandaj.

Em outros lugares, 11 pessoas foram mortas na província de Teerã e 28 na de Mazandaran (norte), segundo o IHR.

Povo heroico”

Na quarta-feira, a Justiça iraniana informou que indiciou 125 pessoas presas durante os “recentes distúrbios”.

Adolescentes também se juntaram ao movimento de protesto, enquanto as meninas tiram seus véus, desafiando a polícia.

O Unicef alertou na segunda-feira estar “muito preocupado” com relatos de “crianças e adolescentes mortos, feridos e presos”, enquanto a Sociedade Iraniana para a Proteção dos Direitos da Criança denunciou a “violência” praticada contra eles.

Pelo menos 28 crianças teriam sido mortas na repressão, “a maioria na empobrecida província de Sistão-Baluchistão”, segundo o grupo com sede no Irã.

Os iranianos também são chamados a se manifestar nesta quarta “em solidariedade ao povo heroico de Zahedan”, capital da província de Sistão-Baluchistão (sudeste), onde as forças de segurança mataram pelo menos outras 93 pessoas em confrontos separados, segundo o IHR.

Nesse caso, a violência foi desencadeada durante manifestações de protesto contra o suposto estupro de uma jovem por um policial.

Internet perturbada

Na segunda-feira, os protestos se estenderam ao setor petrolífero, com greves e comícios na petroquímica de Assaluyeh (sudoeste), Abadan (oeste) e Bushehr (sul), segundo o IHR.

As autoridades impuseram restrições ao acesso à Internet, dificultando o trabalho de investigação da ONG sobre a extensão da repressão, lamentou seu diretor.


Antes dos protestos de hoje, programados para começar ao meio-dia, o site NetBlocks, que monitora bloqueios de internet em todo o mundo, notou pela manhã “uma grande interrupção no tráfego de internet no Irã”.

Isso “provavelmente limitará ainda mais o livre fluxo de informações em meio aos protestos pela morte de Mahsa Amini”, tuitou.

As autoridades iranianas disseram que a jovem morreu de doença e não de “espancamento”, segundo um relatório médico, rejeitado por seu pai.

Analistas dizem que os protestos estão se mostrando particularmente difíceis para o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, de 83 anos, por causa de sua extensão e natureza multifacetada, variando de protestos a atos individuais de desafio.

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