Mundo
Onda de violência deixa 11 mortos e comércios incendiados em cidade mexicana
O governo atribuiu os ataques a uma gangue conhecida como ‘Los Mexicles’, cujos membros atacaram um grupo que se autodenomina ‘Los Chapos’
Ciudad Juárez, uma das principais cidades mexicanas fronteiriças com os Estados Unidos, foi cenário na quinta-feira 11 de uma onda de violência que deixou 11 mortos, incluindo um locutor de rádio e um menor de idade, e comércios incendiados.
Um confronto entre duas gangues rivais em uma penitenciária da cidade, no qual morreram dois presos, desencadeou imediatamente uma série de ataques que deixaram nove mortos e espalharam o pânico.
“A população civil inocente foi agredida como uma espécie de represália. Não foi apenas uma disputa de gangues, mas chegou um momento no qual começaram a disparar contra pessoas inocentes”, afirmou o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, em sua conferência matinal.
Cerca de 600 militares foram enviados para reforçar a segurança, dos quais 300 chegaram nesta sexta-feira 12 ao local, segundo uma fonte do Exército.
As patrulhas, entretanto, se intensificaram e dezenas de instalações permaneceram fechadas por medo de novos ataques, confirmou uma colaboradora da AFP.
O governo atribuiu os ataques a uma gangue conhecida como “Los Mexicles”, cujos membros atacaram um grupo que se autodenomina “Los Chapos” em uma prisão local.
Dois presos morreram baleados e outros 20 ficaram feridos, afirmou o subsecretário de Segurança, Ricardo Mejía, na conferência presidencial.
Segundo a imprensa local, ambas as gangues estão ligadas ao cartel de Sinaloa, do ex-traficante Joaquín “Chapo” Guzmán, que cumpre prisão perpétua nos Estados Unidos.
Jornalista entre as vítimas
Após o motim, duas mulheres foram mortas e uma ficou ferida durante um ataque contra uma loja de alimentos. Outros dois comércios foram incendiados.
Nesta sexta, pessoas rezaram e depositaram velas no local.
Outros três morreram em ataques separados, entre eles um menor de idade que foi baleado em um mercado, segundo o promotor do estado de Chihuahua, Roberto Fierro.
Imagens de um circuito fechado de televisão mostram o momento em que um assassino invade uma loja e atira no balconista à queima-roupa.
À noite, pistoleiros assassinaram quatro pessoas no meio da rua, entre elas o locutor Alan González, da rádio local Mega Radio, que realizava uma transmissão ao vivo. As outras vítimas trabalhavam para a emissora, indicou Mejía.
A equipe da emissora realiza atividades promocionais em frente a uma pizzaria, segundo testemunhas, e o caso é investigado por um órgão oficial de proteção a jornalistas.
Pelo menos outros 13 comunicadores foram assassinados no México em 2022, segundo dados de organizações defensoras da liberdade de imprensa.
Diante do clima de medo, a partida entre FC Juárez e Pachuca pelo campeonato de futebol profissional mexicano, que seria disputada no sábado, foi adiada.
Assédio do tráfico
Mejía anunciou a detenção de seis pessoas acusadas de participar dos ataques.
No entanto, a polícia local comunicou quatro detenções e a governadora do estado de Chihuahua, Maru Campos, informou a mobilização de forças federais e estatais para restabelecer a ordem na cidade de 1,5 milhão de habitantes.
Esta série de ataques em Ciudad Juárez ocorre dois dias depois de uma escalada violenta nos estados de Jalisco (oeste) e Guanajuato (centro), atribuída pelo governo ao cartel Jalisco Nueva Generación, um dos mais poderosos do país.
Os incidentes deixaram um suposto criminoso morto e 16 detidos, além de 25 comércios e vários veículos incendiados.
Alguns dos ataques ocorreram na periferia de Guadalajara, capital de Jalisco e terceira cidade mais populosa do México.
Após a escalada de quinta-feira, vários bairros de Ciudad Juárez ficaram desertos, algumas universidades suspenderam as aulas e a associação empresarial de Chihuahua exigiu que o governo atue com contundência contra o crime organizado.
Chihuahua é um dos seis estados (de 32) que concentram 50% dos homicídios cometidos no México, com 929 casos até 20 de julho, segundo dados oficiais.
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