Opinião: A realidade bate à porta da Casa Branca

Presidente e sua equipe 'não conseguirão mais acender cortinas de fumaça', analisa Ines Pohl

DONALD TRUMP, PRESIDENTE DOS EUA. FOTO: JIM WATSON/AFP

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Por Ines Pohl

Então, agora chegou a vez dele. Durante meses, Donald Trump minimizou os perigos da Covid-19, zombou das pessoas que tentam se proteger com máscaras, declarou que a doença potencialmente fatal é uma invenção democrata e afirmou que nem tudo é tão grave assim.

 

 

Mesmo que pouco depois do anúncio do diagnóstico positivo não seja possível prever se e com que gravidade o mandatário de 74 anos adoecerá, os efeitos sobre a campanha política já são claros, nas vésperas das eleições: são desastrosos.


 

Sem considerar vidas

Todas as tentativas de desviar a atenção do próprio fracasso, de minimizar o fato de que não existe um plano nacional para proteger a população, de que os governadores foram abandonados à própria sorte e de que mais de 200 mil americanos morreram do vírus são agora obsoletas.

A realidade fez estourar o pacote de mentiras do presidente. Ele e sua equipe não conseguirão mais acender cortinas de fumaça, pintar os distúrbios violentos em algumas cidades como mais graves do que o fato de mil americanos morrerem todos os dias em decorrência do vírus.

Com todas as suas forças e ignorando perdas de vidas, Donald Trump tentou colocar a economia novamente nos trilhos antes do dia da eleição. Este plano também vai por água abaixo com este diagnóstico. Mesmo os maiores negacionistas do coronavírus não poderão mais deixar de admitir que o vírus é altamente contagioso – já que ele pode contagiar até mesmo o homem forte que reside na Casa Branca. Neste 2 de outubro, o país está mais longe do que nunca da normalização que Trump esperava tão desesperadamente.

 

Teorias da conspiração

Imediatamente depois que sua infecção se tornou conhecida, uma enxurrada de comentários sarcásticos caiu sobre o presidente. Até teorias da conspiração foram divulgadas, dizendo que ele inventou tudo para distrair a atenção de seus números ruins nas sondagens.

Ele pode lidar bem com tudo isso, afinal, são coisas com que presidente dos “fatos alternativos” está acostumado. Mas não com a perda de sua imagem de touro imbatível. Porque nesse caso não deve restar muita coisa.

 

Biden: de velho a cauteloso

Depois do primeiro debate na TV, o principal argumento dos apoiadores de Trump a seu favor era de que ele estava significativamente mais em forma e, portanto, era mais adequado para este cargo exaustivo de presidente dos Estados Unidos do que seu oponente. A menos que Joe Biden tenha sido infectado durante o debate, esse argumento não deve valer mais – pelo menos nas próximas semanas. Agora não mais sua suposta senilidade deve estar em primeiro plano, mas sua sabedoria de idoso, expressa na razoável cautela.

O impotente presidente Trump tem pouco a oferecer. E definitivamente não é a receita certa para lidar com essa perigosa e contagiosa doença. A decência obriga que seja desejado a Donald Trump e sua mulher, Melania, tudo de bom para os próximos dias.

 

*Ines Pohl foi editora-chefe da DW e hoje é correspondente em Washington. O texto reflete a opinião pessoal da autora, e não necessariamente da DW.


 

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