Políticas agrícolas não estão à altura do desafio climático, diz OCDE

No total, o setor agrícola recebeu 851 bilhões de dólares (mais de 4,2 trilhões de reais) de ajuda anuais entre 2020 e 2022

Créditos: Arquivo/AFP

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A maioria das políticas implementadas em todo o mundo para apoiar a agricultura não permitem que o setor se adapte corretamente à mudança climática, revelou um comunicado da OCDE publicado nesta segunda-feira 30.

“A maioria das medidas de apoio aos produtores agrícolas”, como pagamentos diretos ou preços garantidos, “não foram concebidas para responder aos objetivos de adaptação à mudança climática”, explicou a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

No total, o setor agrícola recebeu 851 bilhões de dólares (mais de 4,2 trilhões de reais) de ajuda anuais entre 2020 e 2022.

“Embora algumas possam favorecer a adaptação, a maioria não facilita – e inclusive pode dificultar – os esforços dos produtores nesse sentido”, indicou o documento.

“Ajudar os agricultores que seguem fazendo o mesmo poderia ser fatal a médio e longo prazo, já que ficarão presos a métodos de produção e a produtos que talvez não sobrevivam ante a mudança climática”, declarou Marion Jansen, diretora de comércio e agricultura da OCDE.

O relatório foi apresentado a um mês da COP28 em Dubai, que deve estabelecer oficialmente que os objetivos do Acordo de Paris ainda não foram cumpridos, e em um momento no qual a mudança climática já está afetando a agricultura mundial.


Em 30 anos, os fenômenos meteorológicos extremos causaram perdas em safras e produção animal no valor de 3,8 trilhões de dólares (quase 20 trilhões de reais), estimou recentemente a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Isso corresponde a cerca de 123 bilhões de dólares por ano (pouco mais de 615 bilhões de reais), ou seja, 5% da riqueza produzida pelos agricultores entre 1991 e 2021, segundo o documento da OCDE.

Grande parte das ajudas atuais podem “impedir mudanças estruturais necessárias”, estimulando, por exemplo, os agricultores a se concentrar em alguns poucos produtos, o que “lhes impede plantar outros que respondam à evolução” do clima, indicou em coletiva de imprensa Mathias Cormann, secretário-geral da OCDE.

“Faltam políticas agrícolas que favoreçam a agilidade e estimulem a se adaptar a um meio ambiente que muda”, detalharam os especialistas.

As iniciativas públicas deveriam se centrar em investir em serviços de interesse comum que beneficiem todo o setor, como a pesquisa, o desenvolvimento e as infraestruturas, segundo a OCDE.

A organização apontou “quase 600” medidas colocadas em prática em diferentes países para preparar a agricultura para a mudança climática, mas “são necessárias medidas adicionais”.

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