Mundo
O tempo joga contra Obama
Presidente caminha para seu último ano na Casa Branca sem ter cumprido algumas promessas de campanha, comenta Miodrag Soric
Dentro de 11 meses, os americanos vão escolher seu novo presidente. E, como sempre, a decisão terá efeitos globais. Se Hillary Clinton vencer, os Estados Unidos continuariam a desempenhar o papel de força da ordem, intervindo militarmente apenas em casos de extrema necessidade. Do lado republicano, dependerá muito de quem, ao final, conseguirá se impor.
Alguns pré-candidatos se inclinam mais para o isolacionismo que o presidente Barack Obama, que se opõe firmemente ao envio de tropas terrestres para a Síria. Uma posição que ele não deve mudar em 2016. E assim continuará a guerra na Síria – até que as partes envolvidas vejam, que apenas um compromisso político pode levar à paz.
Após anos de engajamento, os EUA cada vez mais se afastam do Oriente Médio. Fracassaram todas as tentativas de estabelecer a paz na região, onde Washington “queimou” bilhões de dólares de impostos. Muitos americanos se perguntam: Para quê?
Desde então, defendem alguns, os EUA se tornaram menos dependentes do petróleo estrangeiro. No Oriente Médio, Washington busca sobretudo a segurança política: tenta combater a influência dos islamistas. Em 2016, o assim chamado “Estado Islâmico” e a Al Qaeda não se deixarão derrotar de forma definitiva. Por isso, a tarefa deve passar ao sucessor de Obama. Ou ao sucessor de seu sucessor.
O mesmo vale para negociações de paz entre israelenses e palestinos. O presidente americano parece já ter desistido de levar as partes a conversar novamente. Sua relação com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu continua arranhada. E nos próximos meses os dois possivelmente devem, gentilmente, se ignorar.
Tensa será também a relação entre o presidente americano e a Rússia. Obama não abre mão das sanções contra o Kremlin – afinal, Moscou violou a paz europeia. Ucranianos, poloneses e bálticos aplaudem a dureza mostrada perante os russos. Ao contrário da economia alemã, que perde bilhões de dólares devido às sanções. E, assim, Moscou divide a Europa.
Em seu último ano na Casa Branca, o tempo joga contra Obama. Entre as suas prioridades, estão melhorar as relações com Irã e Cuba. Mas os regimes autoritários nos dois países não tornam a tarefa fácil – ser inimigo dos EUA é algo há décadas instaurado em Teerã e Havana.
E fica aberta a questão sobre se Obama será capaz de fechar a prisão de Guantánamo, uma promessa que fez logo após assumir o poder, em 2008. Suas tentativas, até agora, pararam todas na oposição do Congresso.
Um Congresso que também vê com ceticismo outras iniciativas do presidente. Como a de endurecer as leis que regulam a venda de armas no país. Os republicanos não aprovariam uma reforma como a defendida por Obama. A maioria dos congressistas não quer ter o poderoso lobby de armas como inimigo. Muito menos em ano de eleição.
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