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Por que os EUA consideram ‘inaceitável’ um cessar-fogo que saia da reunião entre Xi e Putin
A visita de três dias do presidente chinês à Rússia ocorre pouco depois do aniversário de um ano da ofensiva militar contra a Ucrânia
O coordenador de Comunicações Estratégicas do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, demonstra ceticismo sobre a possibilidade de a viagem do presidente da China, Xi Jinping, à Rússia resultar em um avanço significativo para resolver a guerra na Ucrânia.
No domingo 19, Kirby disse à Fox News que os EUA observam atentamente o que sairá das reuniões entre Xi e o presidente russo, Vladimir Putin.
“O que dissemos antes e diremos novamente hoje é que se sair desta reunião algum tipo de pedido de cessar-fogo, isso será inaceitável, porque tudo o que isso gerará será uma ratificação da conquista russa até o momento”, afirmou. A avaliação é que a interrupção do conflito nesses termos validaria a manutenção do controle russo sobre territórios ucranianos.
Kirby ainda disse esperar que Xi converse com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, “porque acreditamos que os chineses precisam obter a perspectiva ucraniana”.
Nesta segunda, ele insistiu no assunto e declarou não haver evidências de que Pequim estaria avançando rumo ao fornecimento de armas a Moscou, mas disse que a opção não seria desconsiderada.
“Vamos ver o que eles vão falar nesta reunião. Quero dizer, não sabemos se haverá algum tipo de acordo, apenas diria a vocês que ainda não acreditamos que a China esteja tirando isso da mesa.”
Putin elogiou nesta segunda a posição “equilibrada” de Xi e afirmou analisar “com respeito” o plano chinês de paz na Ucrânia.
A visita de Estado de três dias do presidente chinês à Rússia ocorre pouco depois do aniversário de um ano da ofensiva militar russa contra a Ucrânia.
“Sempre estamos abertos a negociações. Falaremos sem dúvidas de todas essas questões, incluindo suas iniciativas, que tratamos com respeito”, afirmou Putin a Xi durante um encontro “informal” transmitido pela televisão russa.
Xi Jinping, por sua vez, celebrou as “estreitas relações” entre os dois países e sua “cooperação estratégica global”, de acordo com a tradução oficial em russo.
Segundo ele, a China está “disposta a permanecer de maneira firme ao lado da Rússia”, em nome de um “verdadeiro multilateralismo e de uma multipolaridade no mundo”.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, pediu que o mundo não se deixe “enganar” pelas propostas da China para pôr fim ao conflito na Ucrânia e anunciou 350 milhões de dólares adicionais em ajuda militar a Kiev.
No fim de fevereiro, Pequim apresentou um plano de 12 pontos para pedir negociações de paz e respeito à integridade territorial. A postura de Pequim foi criticada por países ocidentais, que consideram que o gigante asiático oferece cobertura diplomática à guerra russa.
Blinken declarou nesta segunda que Washington acolheria satisfatoriamente qualquer iniciativa diplomática para uma “paz justa e duradoura”, mas duvida de que a China esteja salvaguardando a “soberania e a integridade territorial” da Ucrânia.
“Qualquer plano que não priorize esse princípio fundamental é, na melhor das hipóteses, uma tática dilatória ou simplesmente busca um resultado injusto”, insistiu. “Pedir um cessar-fogo que não inclua a retirada das forças russas do território ucraniano seria apoiar efetivamente a ratificação da conquista russa.”
(Com informações da AFP)
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