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Próximo da liberdade, Assange chega às Ilhas Marianas do Norte para se apresentar a tribunal

O fundador do WikiLeaks se declarará culpado após fechar um acordo que lhe permitirá reconquistar a liberdade

Julian Assange, fundador do WikiLeaks, caminha por tribunal na nas Ilhas Marianas do Norte, em 25 de junho de 2024. Foto: Yuichi Yamazaki/AFP
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Após uma saga de anos na Justiça, Julian Assange, que deixou a prisão no Reino Unido, chegou nesta quarta-feira 26 (noite de terça no Brasil) a uma ilha americana no Pacífico, onde o fundador do WikiLeaks se declarará culpado perante um tribunal, após fechar um acordo que lhe permitirá reconquistar a liberdade.

Jornalistas da AFP viram pousar em Saipan, nas Ilhas Marianas do Norte, o avião privado no qual viajava o australiano de 52 anos.

Na mira dos Estados Unidos por divulgar centenas de milhares de documentos confidenciais, Assange comparecerá às 20h (horário de Brasília) a um tribunal federal, segundo documentos da Justiça.

Espera-se que Assange se declare culpado de “conspiração para obter e disseminar informações de defesa nacional”, de acordo com esses registros.

‘Diplomacia secreta’

Assange pode ser condenado a 62 meses de prisão. Por já ter cumprido esse período de prisão preventiva em Londres, a expectativa é que ele possa seguir em liberdade para a Austrália.

Assange “será um homem livre depois que o acordo for ratificado pelo juiz” na quarta-feira, explicou à BBC sua esposa e mãe de seus dois filhos, Stella Assange.

O acordo implica que seu marido se declare culpado de uma única acusação, que “diz respeito à obtenção e divulgação de informações sobre a defesa nacional”, explicou.

A mãe de Julian, Christine Assange, disse estar agradecida pelo fim do “calvário” do filho. “Isso mostra a importância e o poder da diplomacia secreta”, afirmou.

O ex-juiz espanhol Baltasar Garzón, um dos advogados de Assange, comemorou que ele “possa, finalmente, ser um homem livre, após quase 14 anos de luta privado de liberdade, nas condições mais adversas”.

O governo australiano manifestou que o caso já havia se prolongado demais e que já não havia nenhum interesse na prisão de Assange.

A porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direito Humanos, Elizabeth Throssel, celebrou a libertação de Assange e “os avanços significativos para uma solução definitiva do caso”, que “gerou uma série de preocupações relacionadas aos direitos humanos”.

“Não deveria ter sido privado da liberdade por nenhum dia por ter publicado informações de interesse público”, disse Rebecca Vincent, diretora da ONG Repórteres sem Fronteiras.

O presidente Lula (PT) celebrou “uma vitória democrática e da luta pela liberdade de imprensa”. “O mundo está um pouco melhor e menos injusto hoje”, acrescentou.

Stella Assange fez um apelo por uma campanha de financiamento para pagar os 520 mil dólares que seu marido deve reembolsar ao governo australiano depois de fretar o voo entre Londres e a Austrália.

Saga de 14 anos

O acordo, que encerra uma saga de quase 14 anos, incluindo sete anos de confinamento na embaixada do Equador em Londres, foi anunciado duas semanas antes de uma audiência crucial nos tribunais britânicos.

Em 9 e 10 de julho, o recurso de Assange contra a sua extradição para os Estados Unidos seria examinado.

Desde 2019, quando foi levado para uma prisão de segurança máxima em Londres, Assange lutava para não ser entregue à Justiça americana, que o persegue pela publicação de mais de 700 mil documentos confidenciais sobre atividades militares e diplomáticas, em particular no Iraque e Afeganistão.

O australiano, alvo de 18 acusações, enfrentava o risco de ser condenado a até 175 anos de prisão com base na Lei de Espionagem.

O governo britânico aprovou a extradição em junho de 2022. Em maio, no entanto, dois juízes concederam o direito de apelação.

Sete anos na embaixada do Equador

O fundador do WikiLeaks foi preso pela polícia britânica em abril de 2019, depois de passar sete anos confinado na embaixada do Equador em Londres, de onde tentou evitar a extradição para a Suécia em uma investigação por estupro, que foi arquivada no mesmo ano.

Nos últimos anos, a pressão aumentou para que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, retirasse as acusações contra ele. A Austrália apresentou um pedido formal em fevereiro, que o presidente democrata afirmou que estava considerando.

“Que o primeiro-ministro [australiano, Anthony Albanese] tenha declarado algumas vezes publicamente “é suficiente’, e que o Parlamento o tenha apoiado foi algo significativo e absolutamente contemplado pelos Estados Unidos”, declarou à AFP Emma Shortis, pesquisadora de questões internacionais e de segurança no The Australia Institute.

O porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller, disse que, por se tratar de um assunto legal em andamento, não lhe parecia “apropriado fazer comentários neste momento”.

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