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Putin dobra aposta sobre exigências para paz na Ucrânia em reunião com Orban

‘Falamos da retirada total das tropas das Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk e das regiões de Zaporizhzhia e Kherson’, disse o presidente russo

Viktor Orban e Vladimir Putin em Moscou, em 5 de julho de 2024. Foto: Alexander Nemenov/AFP
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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, reiterou nesta sexta-feira 5 ao primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, que a Ucrânia deve abandonar as regiões que Moscou reivindica se quiser paz. O encontro foi criticado pelos outros membros da União Europeia e por Kiev.

O líder ultraconservador, que mantém laços estreitos com a Rússia, chegou a Moscou quatro dias após assumir a presidência semestral da UE.

Putin recebeu Orban no Kremlin e afirmou considerá-lo um representante da UE, embora o bloco tenha criticado a viagem e lembrado que o premiê húngaro não tinha um mandato do grupo para visitar a Rússia.

O secretário-geral da Otan, da qual a Hungria também faz parte, disse que Orban o informou sobre a viagem, mas enfatizou que não estava agindo como representante da aliança de defesa transatlântica.

O presidente russo indicou que o encontro com Orban serviu para discutir as “possíveis vias de resolução” do conflito na Ucrânia, onde a Rússia lançou uma ofensiva em fevereiro de 2022.

Na reunião, Putin reiterou que a ex-república soviética deve abandonar quatro regiões do leste e sul que Moscou considera suas.

“Estamos falando da retirada total de todas as tropas das Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk e das regiões de Zaporizhzhia e Kherson”, afirmou em declarações transmitidas pela televisão, após uma conversa com Orban que descreveu como “franca e útil”.

O governante húngaro reconheceu que há “posições muito distantes” entre os dois lados e insistiu que ainda há “muitos passos a serem dados” para encerrar a guerra e “estabelecer a paz”.

“Mas, para restabelecer o diálogo, hoje foi dado o primeiro passo importante e eu continuarei esse trabalho”, afirmou.

Orban “não representa a UE”

Antes de viajar a Moscou, Orban visitou na terça-feira Kiev, onde pediu ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que considerasse um “cessar-fogo” com a Rússia.

Zelensky defende uma “paz justa” para a Ucrânia, e seu governo expressou que a ida a Moscou não foi “coordenada” com Kiev.

Os líderes da UE também criticaram Orban, de 61 anos, no poder desde 2010.

Orban “não recebeu nenhum mandato do Conselho da UE para visitar Moscou”, declarou o chefe da diplomacia do bloco, Josep Borrell, reforçando que “o primeiro-ministro húngaro não representa a UE de forma alguma”.

Borrell lembrou que a posição da UE sobre a Rússia, devido ao conflito na Ucrânia, “exclui os contatos oficiais entre a UE e o presidente” Putin.

A titular da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, lamentou a viagem e afirmou que o “apaziguamento” não impedirá Putin.

Vários dirigentes da UE reagiram à visita a Putin, que é alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional por acusações de crimes de guerra durante a ofensiva na Ucrânia.

O bloco dos 27 países é contra a ofensiva militar lançada pela Rússia e impôs duras sanções contra Moscou.

No entanto, o primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, que sofreu uma tentativa de assassinato em maio, na qual levou quatro tiros, disse que teria “adorado” acompanhar Orban em Moscou “se [seu] estado de saúde o tivesse permitido”.

Os Estados Unidos também se declararam “preocupados” com a visita de Orban a Putin. Essa viagem “não fará avançar a causa da paz e é contraproducente para promover a soberania, a integridade territorial e a independência da Ucrânia”, disse a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre.

Agenda europeia

Durante os seis meses em que exerce a presidência rotativa do Conselho da UE, um país pode estabelecer temas prioritários em sua agenda.

“Orban chegou a Moscou como parte de sua missão de paz”, afirmou seu assessor de imprensa, Bertalan Havasi, à agência nacional de notícias MTI.

Em uma entrevista à rádio estatal húngara nesta sexta, Orban alegou que a paz não pode ser alcançada sem um diálogo.

“Se ficarmos apenas sentados em Bruxelas, não seremos capazes de nos aproximar da paz. É necessário agir”, afirmou o líder da extrema-direita ao responder a uma pergunta sobre sua viagem à Ucrânia.

Esta é a primeira visita de um dirigente do bloco europeu à Rússia desde que o chefe do governo austríaco, Karl Nehammer, viajou a Moscou em abril de 2022 na tentativa de uma mediação.

Orban e Putin se reuniram pela última vez em outubro de 2023, na China, onde discutiram a cooperação energética.

O líder húngaro critica o apoio da “elite tecnocrata de Bruxelas”, onde estão sediadas as instituições europeias, ao ex-presidente americano Donald Trump e se mostra relutante em fornecer ajuda financeira à Ucrânia.

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