Trabalhistas têm vitória esmagadora nas eleições britânicas

Projeções divulgadas por emissoras britânicas indicam que o Partido Trabalhista conquistou 410 dos 650 assentos na Câmara dos Comuns, contra 131 dos conservadores

Favorito. Starmer vai liderar o Partido Trabalhista na volta ao governo após uma década e meia desastrosa dos tories no poder – Imagem: Redes sociais/Partido Trabalhista

Apoie Siga-nos no

Os trabalhistas conquistaram uma vitória histórica nesta quinta-feira 4 nas eleições legislativas do Reino Unido, segundo as primeiras pesquisas de boca de urna, após o fechamento dos centros de votação. O resultado, favorável à centro-esquerda, colocará um fim a 14 anos de governos conservadores.

Segundo as estimativas divulgadas pelas emissoras britânicas, os trabalhistas de Keir Starmer conquistariam 410 dos 650 assentos na Câmara dos Comuns, contra 131 dos conservadores do primeiro-ministro Rishi Sunak, que teriam seu pior desempenho nas urnas desde o início do século XX.

O partido anti-imigração Reform UK, do polêmico Nigel Farage, um dos grandes incentivadores do Brexit, teria uma entrada significativamente maior do que o esperado no Parlamento, com 13 assentos, atrás do centrista Partido Liberal Democrata (61 assentos).

Os independentistas escoceses, em terceiro lugar nas eleições de 2019, sofreram um duro revés, com apenas 10 assentos conquistados nas 57 circunscrições onde concorriam.

Os resultados oficiais serão conhecidos durante a madrugada no Reino Unido, mas as estimativas não deixam dúvidas de que um novo capítulo na história política britânica será escrito, com o trabalhista Starmer, de 61 anos, como próximo premiê.

“A todos que fizeram campanha para o Partido Trabalhista durante estas eleições, a todos que votaram na gente e que confiaram em nosso novo Partido Trabalhista, obrigado”, escreveu Starmer na rede X após o anúncio das projeções.


Se os resultados das pesquisas de boca de urna se confirmarem, Starmer não superará o recorde de deputados trabalhistas eleitos, obtido por Tony Blair em 1997, quando colocou fim a 18 anos de governos conservadores.

Guinada ao centro

Keir Starmer reposicionou seu partido mais ao centro após a derrota trabalhista nas eleições de 2019, ciente de que as pesquisas lhe eram muito favoráveis, e adotou uma campanha por “mudança” menos radical.

O líder trabalhista prometeu em seu programa uma gestão cuidadosa da economia, dentro de um plano de crescimento a longo prazo que inclui fortalecer os criticados serviços públicos, especialmente o sistema de saúde.

“O importante é fazer a economia crescer e criar riqueza”, disse Starmer nesta semana.

Tim Bale, professor de ciências políticas da Queen Mary University de Londres, avalia que o resultado das estimativas é “um desastre para o Partido Conservador, embora não tenha sido tão catastrófico como alguns previam”.

“Às centenas de candidatos conservadores, aos milhares de voluntários e milhões de eleitores: obrigado pelo trabalho árduo, pelo apoio e por seu voto”, publicou Sunak no Facebook, resignado.

Sunak deixa o cargo menos de dois anos depois de ser nomeado primeiro-ministro, em outubro de 2022.

O Partido Conservador, mergulhado em conflitos internos e em profunda crise, esteve no poder desde maio de 2010. O Brexit e suas consequências para a economia britânica, a pandemia de Covid-19, o aumento do custo de vida e as críticas ao funcionamento do serviço de saúde, com longas listas de espera, acabaram por cobrar seu preço dos conservadores.

“Momento de mudança”

“É momento de mudar, não?”, disse Peter Warren, um diretor comercial de 43 anos, à AFP na estação de Saint-Albans, nos arredores de Londres.

“Tenho esperanças, mas não tenho certeza de que as coisas vão melhorar tanto”, acrescentou, demonstrando a falta de entusiasmo de muitos britânicos diante da alternância de poder que se aproxima.

Starmer tentará nos próximos meses tranquilizar os eleitores, após as repetidas acusações de Sunak de que os trabalhistas aumentarão os impostos.

“Votei nos conservadores para evitar uma maioria trabalhista, o que significaria impostos mais altos para uma geração”, escreveu Sunak nesta quinta-feira nas redes sociais.


Starmer tentou dissipar os receios criados.

“Não haverá aumento do imposto de renda, da seguridade social ou do IVA”, respondeu pouco antes das eleições, enfatizando em sua campanha que apenas aumentará as taxas para certos contribuintes, como escolas privadas ou empresas do setor de hidrocarbonetos – mas não para trabalhadores.

Starmer também anunciou que abandonará o projeto conservador de enviar aviões a Ruanda com imigrantes irregulares para combater a chegada em massa de pessoas pelo Canal da Mancha, que separa a Inglaterra da França.

O líder trabalhista está focado em combater as máfias que facilitam essa chegada de imigrantes ilegais.

Leia também

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

 

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.