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Xi e Putin defendem um mundo ‘multipolar’ em reunião de cúpula no Cazaquistão

Os líderes de China e Rússia participam de encontro com representantes dos outros países da Organização de Cooperação de Xangai (OCX)

Presidentes da China e da Rússia se encontraram em reunião da OCX - Foto: Pavel Volkov / Pool / AFP
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Os presidentes da Rússia e da China defenderam nesta quinta-feira 4 uma ordem mundial “multipolar”, em contraposição ao unilateralismo dos Estados Unidos, que ambos denunciam, em um encontro de cúpula no Cazaquistão que reúne os líderes de vários países que mantêm relações tensas com as potências ocidentais.

A declaração final da reunião de cúpula que acontece em Astana, capital do Cazaquistão, “destaca o compromisso de todos os participantes da Organização de Cooperação de Xangai (OCX) a favor da formação de uma ordem mundial multipolar equitativa”, declarou o presidente russo, Vladimir Putin, durante a sessão plenária da aliança, que inclui Rússia, China, Irã, Índia e países da Ásia Central.

O texto, assinado pelos participantes da reunião de cúpula, destaca as “mudanças tectônicas” que estão acontecendo na “política mundial, na economia e em outras esferas das relações internacionais”.

“É extremadamente importante que a OCX esteja ao lado da equidade e da justiça”, afirmou o presidente chinês, Xi Jinping, que fez um apelo por “resistência às interferências externas”.

Putin e Xi, que aprofundaram os laços desde a invasão russa da Ucrânia, denunciam com frequência a “hegemonia” dos Estados Unidos nas relações internacionais.

Após a adesão em 2023 do Irã, sob sanções ocidentais, Belarus, um aliado próximo da Rússia na guerra na Ucrânia, tornou-se o 10º membro da OCX nesta quinta-feira.

“Temos o poder de destruir os muros do mundo unipolar”, declarou o autoritário presidente bielorrusso Alexander Lukashenko, no poder há 30 anos.

A OCX (Belarus, Índia, Irã, Rússia, Cazaquistão, China, Quirguistão, Uzbequistão, Paquistão e Tadjiquistão), fundada em 2001, ganhou um novo impulso nos últimos anos como um bloco de contrapeso à influência ocidental, concentrada em questões de segurança e econômicas.

Putin leva “muito a sério” comentários de Trump

Putin disse que leva “muito a sério” os comentários do candidato à presidência dos EUA, Donald Trump, de que poderia colocar um fim rápido à guerra na Ucrânia.

“Trump afirma, como candidato presidencial, que tem a disposição e a vontade de parar a guerra na Ucrânia e o levamos muito a sério”, declarou Putin.

O presidente russo também disse que considera os jihadistas talibãs, no poder no Afeganistão, como “aliados na luta contra o terrorismo”.

“Devemos assumir que os talibãs exercem o poder no seu país. E neste sentido os talibãs são, obviamente, nossos aliados na luta contra o terrorismo, porque qualquer autoridade está interessada na estabilidade do país que governa”, acrescentou.

Influência

O encontro de cúpula ocorreu um mês e meio depois de Putin visitar a China para buscar mais apoio para a guerra na Ucrânia.

Além dos membros permanentes, a OCX tem 14 “parceiros de diálogo”, incluindo a Turquia, cujo presidente, Recep Tayyip Erdogan, viajou a Astana. Símbolo da crescente importância do grupo, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, também compareceu ao evento.

A OCX representa 40% da população mundial e quase 30% do PIB mundial, mas, além dos símbolos fortes, há várias divergências entre os membros.

Embora Rússia e China desejem formar uma frente comum contra as potências ocidentais, os países são rivais históricos pela influência na Ásia Central, uma região rica em hidrocarbonetos e fundamental para o transporte de mercadorias entre a Europa e a Ásia.

Os cinco países da região – Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão – são ex-repúblicas soviéticas e compartilham laços culturais, linguísticos e econômicos com a Rússia.

O hermético Turcomenistão não é membro da OCX, mas os outros quatro Estados centro-asiáticos são, junto com Índia, Irã e Paquistão.

Desde a invasão russa à Ucrânia em fevereiro de 2022, Moscou tenta manter sua influência nestes países, diante dos crescentes investimentos da China.

A Ásia Central é um elo essencial na iniciativa chinesa Novas Rotas da Seda, um gigantesco projeto de infraestrutura lançado há dez anos por Xi Jinping.

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