Alberto Villas

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Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'

Opinião

A bicharada

Slogans, a gente sabe que tem muitos que pegam para sempre. Lá vou eu acertar as contas com o leão…

Foto: AFP via Getty Images
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A publicidade já recorreu a muitos bichos como garotos-propaganda. Quem tem mais de sessenta anos vai se lembrar muito bem do tucano da Varig, aquela ave simpática que voava pelo Brasil inteiro.

Vai se lembrar também do Elefantinho da Shell e do elefantão do extrato de tomate da Cica. A Mônica e o Jotalhão eram adorados pela criançada.

E o cachorrinho da Cofap? Aquele cachorrinho basset mudou de raça, virou o cachorrinho da Cofap. Até hoje vejo inúmeros passeando pela rua, que levam o nome do amortecedor.

Quem não se lembra que, no início da década de 1970, que todo mundo punha um tigre no seu carro?

E galinha azul da Maggi?

Tem até produtos com nomes de bichos. É o Sal Cisne, o desinfetante Pato, o azeite Galo, a caninha Pitu e também a Tatuzinho, cujo jingle todo mundo se lembra:

Ai tatu, tatuzinho

E abre a garrafa

E me dá um pouquinho…

Agora vamos falar do leão.

No final dos anos 1970, ele pediu demissão da Metro Golden Mayer e aceitou uma proposta irrecusável da Receita Federal.

De repente, ele apareceu num comercial em rede nacional como garoto propaganda do governo federal, sem concurso, sem nada.

A agência que teve essa ideia de transformar o rei dos animais em funcionário público argumentou que ele foi escolhido, considerando-se que o animal tinha quatro características muito importantes:

É o rei dos animais, mas não ataca sem avisar

É justo

É leal

É manso, mão não é bobo

Há controvérsias.

Com ou sem controvérsias, a verdade é que a ideia do leão da Receita pegou.

Mesmo depois de sua demissão, poucos anos depois, nunca se deixou de falar dele, todo início de ano. Tem décadas que o leão não trabalha mais pro governo, mas a imprensa insiste em dizer que está chegando a hora de você acertar as contas com o leão.

Essa geração nova não faz a menor ideia que diabo de leão é esse. É um caso talvez único na propaganda em que mesmo fora do ar há décadas, ele continua no top trend.

Slogans, a gente sabe que tem muitos que pegam para sempre:

Se é Bayer é bom

Bom Brill tem mil e uma utilidades

Não é uma Brastemp

Rinso lava mais branco

O banco que está a seu lado

A Bayer continua aí, o Bom Brill e a Brastemp também. Mas, mesmo que o sabão em pó Rinso tenha sumido do mapa, tem gente que ainda fala que Rinso lava mais branco e que o Banco Nacional, mesmo falido, é o banco que está a seu lado.

Bom, chegou a minha hora. Lá vou eu acertar as contas com o leão…

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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