Não, não é um caso de polícia, mas de política. Desde logo porque o desaparecimento do indigenista Bruno Araújo e do jornalista inglês Dom Phillips tem causas que se prendem com o desmatamento ilegal na Amazônia e com o garimpo em terras indígenas. A motivação parece, portanto, ter a ver com a política. Todavia, o que torna este caso num caso político muito sensível é que ele afeta de forma muito negativa a imagem do Brasil. Já não bastava o último relatório de desmatamento que indica um novo recorde (10,3 mil quilômetros quadrados em 2021). Já não bastava a controvérsia política do desmantelamento dos organismos estatais responsáveis pela conservação. Já não bastavam os episódios de invasões de terras indígenas. Agora este episódio mostra ao mundo que a Amazônia é um território que o Estado brasileiro parece ter abandonado à violência e ao crime. Seja o que for que tenha acontecido, o incidente terá consequências sérias na reputação internacional do País.
Depois temos também a infeliz reação do presidente (a que se somou recentemente a reação do vice-presidente). A sugestão de que teriam agido com negligência, que a região é perigosa, que foi uma aventura, que não comunicaram as autoridades e por aí fora, é um insulto às famílias dos desaparecidos e ao povo brasileiro, que não aceita o que está a acontecer na Amazônia. No estrangeiro, a declaração foi recebida com um misto de tristeza e incredulidade.
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