Opinião
Antes que me cancelem
A convicção de que, para alguém se pronunciar sobre algum tema, precise estar chancelado por um “lugar de fala”, faria Voltaire se remexer no túmulo
Já fui “cancelada” uma vez. Por mais contraditório que pareça, foi no período em que integrei a Comissão Nacional da Verdade, aprovada no Congresso por empenho da então presidenta Dilma Rousseff. Correu um boato de que eu “não estaria interessada” na causa dos desaparecidos políticos. Um mal-entendido que explicarei logo abaixo. Demorei para “limpar minha ficha”.
Como fui indicada pelo MST, era lógico que coubesse a mim a pesquisa sobre as graves violações de direitos humanos entre as populações camponesas. No “pacote” vieram os indígenas: uma inclusão fundamental, dado o seu amplo genocídio ocorrido durante a ditadura. Assim, embora acompanhasse todas as audiências públicas dos militantes sobreviventes junto à CNV, eu não tinha tempo para também pesquisar. Foi em uma dessas audiências públicas que me dei conta do meu cancelamento.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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