É tarde, é tarde, é tarde, é muito tarde…

Gilmar Mendes me lê, mas imita o coelho de Alice no País das Maravilhas

O ministro Gilmar Mendes. Foto: Carlos Moura/SCO/STF

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A vida de um jornalista em quarentena reserva-lhe às vezes notáveis surpresas. Descobri que o ministro Gilmar Mendes, que já me processou anos atrás, lê meus textos e com eles concorda. Pois, dias atrás, Mendes declarou impavidamente que a confusão de hoje, a demência do governo Bolsonaro, decorre da Lava Jato.

Se bem entendo, o primeiro motor da desgraça é o Torquemadazinho de Curitiba, este que desrespeita sistematicamente as demandas mais elementares do Direito e se exibe no apoio da mídia nativa qual fosse herói da pátria. Há tempo escrevo o que agora o ministro Gilmar endossa, do alto da sua inegável autoridade a motivar sua influência sobre as decisões do Supremo Tribunal Federal. Motivo de satisfação para mim o reconhecimento do ministro que não imaginava meu leitor.

Mesmo lisonjeado pergunto aos meus perplexos botões por que a consideração do ministro Gilmar foi formulada somente agora, em vez de em tempo útil para sustar a ação criminosa do desvairado juizeco curitibano.

Tivesse a Suprema Corte atuado em tempo útil, em lugar de permitir que o julgamento de Curitiba prosseguisse, teríamos evitado o sórdido desfecho da condenação sem provas e da prisão do ex-presidente da República, passo seguinte ao impeachment ilegal de Dilma Rousseff, para impedir que Lula participasse das eleições de 2018, que enfim colocaram no Planalto um ser claramente necessitado de tratamento psiquiátrico urgente.

O desfecho da operação, tão daninha para o País ainda sem nação, torna flagrantemente a atual situação irregular de todos os pontos de vista, e invalida quanto acontece, torna letra morta a atuação de um governo sem legitimidade.


Como repete exaustivamente o coelho de Alice no País das Maravilhas: “É tarde, é tarde, é muito tarde…”

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