Educação

Em defesa de qual educação?

É a educação pública, gratuita e de qualidade, a qual defendemos juntamente com a regulamentação da educação privada

Desmobilização. As maiores manifestações contra Bolsonaro foram organizadas por estudantes. Explica-se o avanço sobre a renda das entidades. Foto: Miguel Schincariol/AFP
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O sexto mês do ano já chega e, com ele, completam-se seis anos do movimento que ficou conhecido como as Jornadas de Junho de 2013, acontecimento para o qual se permanece, ainda depois desse tempo, em busca de explicação. Mas que, sem dúvida, teve como um de seus legados a cooptação e ascensão espantosas de forças conservadoras.

Naquele ano, especificamente no protesto ocorrido no dia 20 de junho — possivelmente o maior de todos —, saúde e educação foram colocadas como as duas principais bandeiras dos manifestantes (junto com o transporte público de qualidade, pauta que fora o estopim para toda a mobilização), conforme pesquisa realizada nas ruas, na ocasião, pelo Instituto Datafolha. Muitos dos que ali estavam provavelmente também estiveram na Greve Geral da Educação ocorrida no último dia 15 de maio.

Num paradoxo, dada a dimensão e contradição que junho de 2013 tomou enquanto fenômeno social cujas consequências continuam sendo sentidas, é bastante factível que muitos dos que se vestiram de verde e amarelo no domingo, 26 de maio de 2019, também o tenham feito lá. Como compreender esse contrassenso?

Do “protesto a favor” (essa invenção bolsonarista) do dia 26, uma das fotos que mais chamou a atenção e viralizou nas redes sociais foi a de manifestantes pró-governo retirando, sob aplausos, a faixa “Em defesa da educação” da fachada do Prédio Histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Uma ode à ignorância, parafraseando o que foi dito pelo reitor da instituição, Ricardo Marcelo Fonseca. Mais do que isso, trata-se de um atestado. E não necessariamente de estupidez, mas de má-fé. Como o próprio Fonseca observou, não havia na faixa qualquer logo sindical ou qualquer menção a algum movimento político ou social. Isso significa que o que desagradou os militantes — se é que merecem essa palavra — pró-Bolsonaro foi a educação em si mesma, algo que não compreendem e não têm.

Que “educação” é essa, então, que aparece nas pautas desse movimento verde-amarelista — tão flertante com o fascimo quanto seu antecessor integralista do início do século XX — que vez ou outra tenta sair às ruas? Mesmo em 2013, a “educação” que eles defendiam nunca foi a nossa. Sua pauta foi e continua sendo a de uma educação privatista, elitista e excludente, sem pensamento crítico e sem exercício de cidadania.

A nossa é a educação pública, gratuita e de qualidade socialmente referenciada, a qual defendemos juntamente com a regulamentação da educação privada sob as mesmas exigências aplicadas à rede pública, lutando contra a mercantilização e a financeirização do ensino. A deles é a que arranca faixas em defesa da universidade pública. A nossa é que inunda as ruas, num tsunami: no último dia 15, neste dia 30, no próximo dia 14, com a greve geral da classe trabalhadora.

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