Frente Ampla

Por que a privatização das escolas estaduais no Paraná é um erro

As promessas de eficiência e qualidade não se sustentam frente à realidade de aumento de desigualdades e fragmentação do sistema educacional

O deputado estadual do Paraná Requião Filho. Foto: Eduardo Matysiak
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A privatização das escolas estaduais no Paraná tem sido um tema de debate acirrado. Apesar das promessas de eficiência e melhoria na qualidade da educação, as evidências internacionais mostram que a privatização não é a solução ideal para os problemas educacionais.

Exemplos de vários países ao redor do mundo demonstram que essa abordagem pode exacerbar desigualdades e falhar em melhorar o desempenho estudantil:

Chile: Uma experiência frustrante

No Chile, a privatização da educação começou durante a ditadura de Pinochet, através de um sistema de vouchers que permitia a escolha de escolas privadas financiadas pelo governo. Inicialmente, parecia uma solução promissora. No entanto, estudos mostram que a privatização levou a uma maior desigualdade. As escolas privadas começaram a selecionar alunos com base em desempenho e disciplina, deixando os estudantes mais vulneráveis nas escolas públicas. Valenzuela et al. (2014) apontam que essa política aumentou a disparidade de desempenho entre alunos de diferentes níveis socioeconômicos, prejudicando ainda mais os mais desfavorecidos.

Suécia: reavaliando o modelo

A Suécia também é um exemplo relevante. Conhecida por suas escolas independentes, o país inicialmente viu a privatização como uma forma de inovar e melhorar a educação. Porém, Fjellman et al. (2019) descobriram que a liberdade de escolha escolar levou a uma maior segregação racial e socioeconômica. Estudantes nativos suecos escolheram escolas mais distantes para evitar colegas imigrantes ou de classes socioeconômicas mais baixas. Isso resultou em um sistema educacional mais fragmentado e desigual, forçando o governo sueco a reconsiderar e regular mais rigorosamente essas escolas.

Estados Unidos: resultados mistos e desigualdade aumentada

Nos Estados Unidos, a implementação de escolas charter e vouchers foi amplamente promovida como uma solução para a melhoria da educação pública. No entanto, pesquisas, incluindo o estudo de Jabbar et al. (2019), indicam que os resultados são frequentemente nulos ou inconclusivos em termos de desempenho dos alunos. Além disso, Grube e Anderson (2018) destacam que essas iniciativas aumentaram a segregação racial, exacerbando desigualdades preexistentes. Mesmo com um histórico mais longo de privatização, os EUA enfrentam desafios significativos em alcançar uma educação equitativa e de qualidade.

Finlândia: a força da educação pública

Em contraste, a Finlândia nunca adotou a privatização da educação. O sistema educacional finlandês é majoritariamente público, focado em financiamento robusto, alta qualificação dos professores e equidade no acesso à educação. Este modelo é frequentemente citado como um dos melhores do mundo. A Finlândia prova que é possível alcançar uma educação pública de alta qualidade sem recorrer à privatização.

Reino Unido: lições divergentes

No Reino Unido, a privatização avançou durante a era Thatcher, mas com resultados mistos. A Escócia, que optou por investir em uma educação pública baseada no bem-estar social, alcançou avanços significativos. Em contraste, a Inglaterra enfrentou desafios que só começaram a ser resolvidos durante o governo de Tony Blair, que buscou um equilíbrio maior entre o público e o privado.

Conclusão: cautela e debate necessários no Paraná

As lições globais são claras: a privatização da gestão educacional tende a falhar em promover melhorias significativas na qualidade da educação e frequentemente agrava a segregação e a desigualdade. Países como Chile, Suécia e Estados Unidos estão reavaliando suas políticas de privatização, enquanto a Finlândia e a Escócia mostram que uma educação pública forte e bem financiada pode oferecer resultados excelentes.

Diante dessas evidências, é crucial que o Paraná e o Brasil como um todo abordem a privatização da educação com extrema cautela. As promessas de eficiência e qualidade não se sustentam frente à realidade de aumento de desigualdades e fragmentação do sistema educacional. Um debate aprofundado e baseado em evidências é essencial para garantir que as políticas educacionais realmente atendam às necessidades de todos os estudantes, promovendo equidade e qualidade.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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