No último sábado 1º, o Real Madrid bateu o Borussia Dortmund por 2 a 0, garantindo seu 15º título da UEFA Champions League. O segundo gol madrilenho foi marcado pelo brasileiro Vinicius Jr., que também foi eleito pela federação europeia o melhor jogador da competição.
Ato contínuo ao reconhecimento como destaque do campeonato, começaram as apostas de que o nosso craque deve ser eleito Bola de Ouro da FIFA na temporada 2023/2024, o que o colocaria ao lado de consagrados como Cristiano Ronaldo, Leonel Messi, Benzema e Modric, para falar só dos últimos anos, pós-unificação das premiações.
Caso venha a se confirmar, será, sem dúvida, um feito esportivo espetacular. Porém, nesse caso, a consagração dentro dos gramados viria também a premiar a altivez, a dignidade e a coragem de um ser humano incrível.
Nos últimos anos, infelizmente, nos acostumamos a assistir perplexos a cada manifestação racista sofrida por Vini Jr., em um país que parece ignorar que isso extrapola o futebol e os limites da civilidade. Os torcedores criminosos, muitas vezes, contam com a complacência e até mesmo o apoio velado de autoridades, que também mal disfarçam o racismo arraigado em suas entranhas.
Vini jamais calou, jamais se curvou, jamais aceitou o papel de “Pai João”! A cada insulto, uma resposta; a cada humilhação, uma volta por cima, obrigando seus detratores a engolirem o amargor do fel de mais um derrota sofrida.
Foi-se o tempo do “deixa disso”. Honrando sua ancestralidade, Vini luta contra os grilhões que querem lhe impor e conquista – na marra, se necessário – seu lugar ao sol. Sua denúncia incansável do racismo recreativo começa a repercutir, ganhar adesão de atletas, clubes e obter efeitos práticos.
A FIFA anunciou que finalmente sairá do imobilismo e obrigará suas entidades filiadas a incluírem nos códigos disciplinares punições esportivas contra clubes cujas torcidas protagonizarem episódios de racismo, inclusive a derrota do time. Também foi estabelecido um gesto – braços cruzados na altura dos punhos – para que jogadores possam denunciar as ofensas.
Pode parecer pouco, mas é uma enorme vitória. Sou relator, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara Federal, do Projeto de Lei 7383/2014, que tipifica o crime de injúria racial em eventos esportivos, que temos chamado de “Lei Vini Jr.”, em homenagem a seu papel nessa causa.
Particularmente, sempre considerei que a sanção esportiva seria um elemento fundamental para que uma lei desse tipo seja efetiva para evitar os atos. Afinal, o risco de punição ao clube fará com que os próprios torcedores, certamente uma maioria não racista, mantenham vigilância e denunciem práticas racistas.
Sempre vi com certa preocupação a proliferação de camisetas de times europeus entre nossa molecada, porque é um certo atestado das dificuldades do nosso futebol em segurar os ídolos nos clubes brasileiros, elevando o nível dos campeonatos e incentivando os craques do futuro a manterem acesa a chama do futebol canarinho.
No caso do Vini Jr., confesso, não tenho esse sentimento. Ao contrário, tenho orgulho imenso de vê-lo ser exemplo para nossas crianças e adolescentes. Vini Jr. é um exemplo que arrasta!
Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.
Já é assinante? Faça login