Até esse ano, todos os aniversários da Lava Jato foram marcados por uma grande vitória e um emocionante “parabéns pra você, nesta data querida“. Em março de 2015, a Operação comemorou seu primeiro ano de vida com a prisão de ex-diretores da Petrobras. Em 2016, dois anos de vida, com a condenação de Marcelo Odebrecht e o vazamentos dos áudios, por Sérgio Moro, de conversas entre Dilma e Lula. Em 2017, com a prisão de operadores do MDB e no ano passado – o ápice -, com o julgamento e prisão do ex presidente Lula.
Este ano, os intocáveis da República de Curitiba decidiram ir além e para celebrarem os 5 anos de vida da Lava Jato criaram um fundo bilionário, na forma de uma entidade de direito privado, sob tutela deles mesmos e com dinheiro das multas pagas pela Petrobras. O objetivo seria financiar projetos heróicos de combate à corrupção, além é claro, de criar um orçamento paralelo somente ao “Ministério Público Federal do Paraná” – outra criação do Deltan, já que o Ministério Público Federal é, oras bolas, nacional e não estadual.
Foi aí que as coisas começaram a desandar. Depois de diversas críticas e pressões políticas de todos os lados, o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou a suspensão de todos os efeitos do acordo e o bloqueio imediato dos valores. Para piorar, ainda afirmou que Deltan e companhia se comportavam como “salvadores da pátria” e que se achavam a “Liga da Justiça Sagrada“. (risos)
Neste ínterim, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, membro ativo da Liga da Justiça Sagrada chegou a postar nas suas redes sociais que, sobre o acordo para a criação da fundação, existiam 3 tipos de pessoas:
- as que não leram e criticaram;
- as que leram, não entenderam e criticaram;
- e as que leram, entenderam e criticaram de má-fé.
Em outras palavras, só existia a opção de ler o acordo e achar maravilhoso, do contrário ou você é burro ou não gosta deles.
Mas a derrota quanto a criação da fundação ainda não seria o maior revés dos procuradores. O maior fracasso veio com a decisão do STF de remeter a Justiça Eleitoral os crimes comuns – como corrupção e lavagem de dinheiro – quando cometido em conexão com crimes eleitorais, como o Caixa 2.
Parênteses
Já que estamos falando sobre Caixa 2, aqui vale uma pequena cronologia sobre a opinião do nosso ministro da Justiça sobre o assunto.
Em 2016, na opinião de Sérgio Moro, Caixa 2 era uma “trapaça“.
Em 2017 a coisa ficou mais séria e o Caixa 2 se tornou “um crime contra a democracia“.
Em 2018 bastava pedir desculpas para que tudo ficasse resolvido.
E finalmente, em 2019, retirou o Caixa 2 do Projeto Anticrime e concluiu: “existe o crime de corrupção e existe o de Caixa 2. São dois crimes“. Questionado pela Folha de São Paulo se aceitar dinheiro por outra via não era uma forma de corrupção, Moro respondeu: “Aí é uma questão técnica“.
Agora que questão técnica é essa, serão as cenas dos próximos capítulos.
Fecha Parênteses
Voltando ao julgamento do Supremo, tivemos como a cereja do bolo Gilmar Mendes referindo-se aos integrantes do Ministério Público como gângsters, cretinos e gentalha despreparada. Enfim, momentos tragicômicos a parte, o que você precisa entender de fato é que essa decisão do STF foi encarada como uma derrota tanto pela PGR, quanto por Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, por considerem a Justiça Eleitoral despreparada e sem profissionais especializados para lidar com crimes complexos de corrupção, além de ser uma Justiça que promulga sentenças mais brandas e com grande histórico de impunidade.
Verdade seja dita, o que a turma do Deltan queria era escolher qual o ramo da Justiça lhe parecia melhor ou mais eficiente pros seus propósitos.
E verdade seja dita, o STF também.
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