Maria Rita Kehl

Opinião

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Inimigo interno

A militarização de nossas polícias tem, como efeito nada secundário, o fato de produzir homens preparados para guerrear contra… o próprio povo

Para 79% dos entrevistados, as abordagens policiais são baseadas na cor da pele, no tipo de cabelo e vestimenta – Imagem: Prefeitura de Cajamar/GOVSP
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O relatório final da Comissão Nacional da Verdade traz recomendações às polícias brasileiras. Uma delas é a desmilitarização das forças. O leitor já parou para pensar por que nossas polícias são militares? O preparo dos policiais que deveriam proteger a população equivale ao preparo dos soldados que vão para a guerra? O leitor pode pensar que este “detalhe” não tem importância. Mas tem. A atribuição das polícias é proteger os cidadãos. O preparo militar tem outro foco: preparar atiradores capazes de abater inimigos em um conflito armado.

A militarização de nossas polícias tem, como efeito nada secundário, o fato de produzir homens preparados para guerrear contra… o próprio povo. O pretexto é sempre o mesmo: alega-se “resistência seguida de morte”. Não importa se a pessoa assassinada estivesse desarmada. Aliás, um dos procedimentos que tentam justificar o tal “auto de resistência” consiste em colocar uma arma na mão do defunto para forjar um inexistente confronto. Quem se importa em verificar a existência de resíduos de pólvora nas mãos deste que supostamente teria resistido a tiros à abordagem policial?

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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